Monday, May 23, 2022

E mais para muito amar, sem gozo de amor :: Itacambira

Há quinze dias fiz postagem sobre Itacambira, onde Diadorim nasceu e foi batizada (aqui). Batizada Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins, nascida "para o dever de guerrear e nunca ter medo, e mais para muito amar, sem gozo de amor". Itacambira já merece visita por tantas razões e desrazões, sendo esta, a do batismo, a primeira. A pia batismal ainda está lá. E tem mais

A Matriz de Santo Antônio de Itacambira, vetusta senhora tricentenária muito bem conservada, tem um altar absolutamente sui generis, não apenas para os padrões dos gerais mineiros, mas para os padrões de todo o barroco mineiro. Pensando bem, um altar ímpar em todo o barroco brasileiro e, por que não dizer, mundial. Basta ver essa torre ladeada por duas escadas. Meu Deus

E, não bastassem pia de Diadorim e altar, a igreja é ainda conhecida pelas múmias descobertas na década de 1950. Guimarães Rosa, sempre atento, incorporou-as ao Grande Sertão ao falar da igreja: "onde tem tantos mortos enterrados"

















Friday, May 20, 2022

Feira em Honório Gurgel

Saí de casa com o propósito único de explorar a Rua Tacaratu (aqui), que eu conhecera, por acaso, quando fui com o Dante ao Parque de Madureira há coisa de dois meses. Aliás já pensava nessa exploração há dois meses, mas ficava cabreiro com medo da violência. Sábado passado, provavelmente saudadoso dos passeios que o Comida di Buteco proporciona (aqui), enchi-me de coragem. Fui. Não sem antes, na véspera,descobrir que perto da dita rua tinha feira aos sábados.

Rapaz, que feira

Me dissessem estava eu em Tacaratu, eu quase acreditava. A quantidade absurda de gaiolas, os tenébrios, o chopp artesanal, o jiló recheado, o bolinho de feijoada pantagruélico a três reais, a presença das escolas de samba nas camisas, a música berrando nas caixas (isto eu dispensaria), Jesus Amado, eu quero um aniversário ali

Sábado é dia de feira

 


 






















 


Wednesday, May 18, 2022

Paredão de Minas :: Acaso Existirão os Paredenses?

Hoje ninguém mora mais. As casas vazias é o que fala Riobaldo acerca do Paredão (aqui), a fala tão definitiva sobre um lugar que não lhe trazia boas lembranças

Em Itinerário de Riobaldo Tatarana, livro de Alan Viggiano de 1974 sobre a toponímia do Grande Sertão, o autor prevê a presença de pesquisadores estrangeiros para "vasculhar memórias do escritor naquelas paragens" e "não encontrarão provavelmente nada"

Encontrei, naquele de-sertão com cara de fim de linha, de fim de mundo, paredenses







Sunday, May 15, 2022

Paredão de Minas

Já escrevi sobre a visita ao Paredão aqui, lembrando que lá não é só espaço de guerra mas de amor. E grandes revelações, uma interrompida, outra total

O Paredão ainda me era desconhecido, não tendo entrado na viagem de 1992 nem nas duas de 2019. Estava aqui, pontinho preto no mapa, depois do Chapadão dos Gerais, noroeste de Buritizeiro. Para mim era miraculoso que um dos locais mais importantes do Grande Sertão existisse de fato, com o mesmo nome. Ou seja, por isolado que fosse, por abandonado que fosse (isso já no romance: arraial desolado, de casas vazias e capim no telhado da igreja), ao menos sua localização era segura, isso já informara Alan Viggiano em seu clássico Itinerário de Riobaldo Tatarana, Bruna Lombardi em seu diário das gravações da minissérie, e matérias recentes de jornais

Sempre que se faz uma viagem dessas existe a chance, grande, de frustração, alguma que seja. A gente quer a coisa como está ali na obra. Ou como está na nossa cabeça. Em 1992 já foi assim, em Buritis. No caso do Paredão, minha frustração seria encontrar um local muito desenvolvido ou, e isso pode parecer paradoxal, que explorasse a batalha final entre Diadorim e Hermógenes. Que tivesse aqueles corpos onde você pode enfiar a cabeça para que tirem fotos: 'Eh, agora sou Diadorim! Agora sou Hermógenes!'. Estadunidenses iriam encenar a luta final ali, every Friday. Isso seria uma grande decepção. Pois não seria mais Paredão

Então não fiquei nem um pouco decepcionado. Pelo contrário. Há o marco territorial 89, bastante gasto, nada que ofenda. Continua lá, ermo, desertão, poucas casas, igrejinha com sino imperial (!!), mercearia. Tantos pássaros 

E o Rio do Sono

Contribui para isso, claro, o seu isolamento físico. Conforme narro no pequeno vídeo, sai-se de uma estrada importante, a BR 365, para pegar uma menor e depois ainda outra. Longa estrada da terra. Como tinha que ser

Tudo sempre corrido, mas deixei-me ficar, deixamo-nos, eu e Geraldo, que picou seu fumo e só não tomou merecida talagada de cachaça porque é motorista responsável. Entro na casa vazia, meu Deus, quem terá morado ali? Como explicar esse arco que separa a entrada dos demais cômodos e que eu lembrei de já ter visto em Urucuia em 1992? (E por que isso me dói?) Na única venda, conhecemos Elisângela, que leva as crianças das fazendas para a escola na que chama de sua marinete. Conhecemos também Géssika, assim com gê e ká, articulada, com quem me sinto à vontade para brincar sobre o 'movimento' do Paredão. Troco de roupa na beira do rio e me deixo ficar no mítico Rio do Sono, onde lavo corpo e alma. Meu Deus, preciso voltar, passar dias e noites, tomar banhos noturnos no do Sono. 

Como fazia Diadorim