Já escrevi sobre a visita ao Paredão aqui, lembrando que lá não é só espaço de guerra mas de amor. E grandes revelações, uma interrompida, outra total
O Paredão ainda me era desconhecido, não tendo entrado na viagem de 1992 nem nas duas de 2019. Estava aqui, pontinho preto no mapa, depois do Chapadão dos Gerais, noroeste de Buritizeiro. Para mim era miraculoso que um dos locais mais importantes do Grande Sertão existisse de fato, com o mesmo nome. Ou seja, por isolado que fosse, por abandonado que fosse (isso já no romance: arraial desolado, de casas vazias e capim no telhado da igreja), ao menos sua localização era segura, isso já informara Alan Viggiano em seu clássico Itinerário de Riobaldo Tatarana, Bruna Lombardi em seu diário das gravações da minissérie, e matérias recentes de jornais
Sempre que se faz uma viagem dessas existe a chance, grande, de frustração, alguma que seja. A gente quer a coisa como está ali na obra. Ou como está na nossa cabeça. Em 1992 já foi assim, em Buritis. No caso do Paredão, minha frustração seria encontrar um local muito desenvolvido ou, e isso pode parecer paradoxal, que explorasse a batalha final entre Diadorim e Hermógenes. Que tivesse aqueles corpos onde você pode enfiar a cabeça para que tirem fotos: 'Eh, agora sou Diadorim! Agora sou Hermógenes!'. Estadunidenses iriam encenar a luta final ali, every Friday. Isso seria uma grande decepção. Pois não seria mais Paredão
Então não fiquei nem um pouco decepcionado. Pelo contrário. Há o marco territorial 89, bastante gasto, nada que ofenda. Continua lá, ermo, desertão, poucas casas, igrejinha com sino imperial (!!), mercearia. Tantos pássaros
E o Rio do Sono
Contribui para isso, claro, o seu isolamento físico. Conforme narro no pequeno vídeo, sai-se de uma estrada importante, a BR 365, para pegar uma menor e depois ainda outra. Longa estrada da terra. Como tinha que ser
Tudo sempre corrido, mas deixei-me ficar, deixamo-nos, eu e Geraldo, que picou seu fumo e só não tomou merecida talagada de cachaça porque é motorista responsável. Entro na casa vazia, meu Deus, quem terá morado ali? Como explicar esse arco que separa a entrada dos demais cômodos e que eu lembrei de já ter visto em Urucuia em 1992? (E por que isso me dói?) Na única venda, conhecemos Elisângela, que leva as crianças das fazendas para a escola na que chama de sua marinete. Conhecemos também Géssika, assim com gê e ká, articulada, com quem me sinto à vontade para brincar sobre o 'movimento' do Paredão. Troco de roupa na beira do rio e me deixo ficar no mítico Rio do Sono, onde lavo corpo e alma. Meu Deus, preciso voltar, passar dias e noites, tomar banhos noturnos no do Sono.
Como fazia Diadorim