Tuesday, April 09, 2019

De Patrimônio Histórico e Conservadorismo

Palmeira-BA

Queijo do Serro

1986 tinha tudo para ser um grande ano: eu terminara o Ensino Médio feliz, iria iniciar os estudos de Psicologia na UERJ e já com a viagem de intercâmbio para Chicago marcada no meio do ano.

Antes disso, em janeiro, teve Ouro Preto. Uma epifania. Todas as questões de patrimônio histórico, cidades históricas, arquitetura e preservação entraram na minha alma com força para duas, três, quatro vidas. Antes mesmo que as férias terminassem, eu já quase esgotara o périplo das cidades históricas mineiras mais conhecidas. O Caraça ficou para a Páscoa.

Desde então, pois, é dos meus interesses maiores, em leituras, fotografias e, claro, viagens. Como outros de meus interesses maiores (rock progressivo, single malts, poesia), não partilhado por muitos.

Com a chegada das redes sociais, fui, como todos, procurar a galera com interesses semelhantes.

A turma interessada em questões de patrimônio histórico é particularmente desagradável (há exceções). Camila tem uma teoria, tão simples quanto válida: 'Mas é claro, estão interessados em preservação, em conservação, você acha que isso iria se limitar às igrejas barrocas?'

Queria crer que sim (bem, e que não se limitasse apenas às igrejas oitocentistas, claro), mas a realidade é que o interesse maior é mesmo "o meu Brasil de volta", havendo até um grupo de monarquistas doentio e outros, que sem serem particularmente apegados às barbas do Pedrão, defendem abertamente ideias fascistas e fascistoides, votam em um partidário da tortura e atacam direitos humanos.

A ironia é que esses imbecis desconhecem que não será com jair bolsonaro, não será com esse ministério de idiotas que teremos avanço na área do patrimônio histórico. Ou alguém acha que um desgoverno desses, corrupto, ignorante e despreparado, entende das questões de preservação? Que esse desgoverno que criminaliza pesquisa e conhecimento não achará preferível entregar o patrimônio em troca de vultosas propinas? E o patrimônio imaterial? Esses asnos estarão interessados na capoeira, no amolador de faca, no queijo do serro, no empadão goiano, no grafismo dos wajapis, no samba de roda do Recôncavo?


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