Há alguns anos escrevi poema chamado 'Nossos banhos no escuro', em que falo de escuro, Shiva, amor. Aqui:
Nossos banhos no escuro
Como escrever o poema
se a poesia
já ficou no título?
Tentemos.
Nossos banhos no escuro
um só corpo
Shiva
dança no box.
O curioso é que roubei o título de um verso (tudo são intertextualidades) de Rosa Tocantins. Cheio de remorsos, contei pra ela, que nem se lembrava de nada e gostou da menção à Shiva.
E o poema definitivo sobre os banhos a dois (escuro ou não) veio agora com a Raquel Serejo Martins, de quem eu já falara
aqui.
Mãos cheias de medos
Gosto de perceber
as marcas do sol no teu corpo nu,
de fingir que as desenho
como se o meu dedo indicador um lápis de carvão,
como se em ti houvesse,
um lado escuro e um lado claro,
uma parte salgada e uma parte doce,
uma parte que nunca viu o mar
nem acredita que é possível amar assim,
e que só eu te conheço inteiro,
porque só comigo te enfias debaixo de um chuveiro,
porque só a mim contas os teus medos,
medos que como piolhos
ficam nos dedos das minhas mãos
enquanto te seco o corpo,
te penteio o cabelo,
medos que não saem com água e sabão,
nem com palavras de amor.
****¨¨¨¨¨¨¨*****************************¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Disse à Raquel 'Também conheço alguém quase que por inteiro. Porque só com ela me enfio debaixo do chuveiro. Que ora fica quente ora frio', ao que ela responde 'É
não é fácil banho a dois debaixo do chuveiro, às vezes quase parece um
banho a três porque a cortina também quer entrar na valsa'.