Curiosa a carreira literária de Ciro dos Anjos. Em 1937 estreia com O Amanuense Belmiro, a que se segue, oito anos depois, Abdias, no mesmo estilo.
Em 1956 veio Montanha, obra pretensiosa que, seguindo uma linha experimental de John dos Passos, alinha-se a romances como Colmeia (1951), de Camilo José Cela, e Entre Mulheres Sós (1949), de Cesare Pavese. Pode ser interessante analisar esses romances na sala de aula. Lê-los é maçante demais.
Não sei como foi a recepção crítica da Montanha, não sei se foi o publicá-lo no ano do Grande Sertão, fato é que Ciro parou de escrever. Ficção. Porque então viriam suas memórias, os maravilhosos Explorações no Tempo e A Menina do Sobrado.
Conforme relatei na postagem anterior (aqui), visitei-o por duas vezes. Falo dessas visitas depois.
Por ora segue trecho do Amanuense, prosa definitiva.
"Afinal, são inúteis essas tentativas de análise e de interpretação de nós mesmos. Há, em nós, abismos insondáveis, que jamais exploraremos, onde se recolhem, pelo tempo que lhes apraz, as combinações múltiplas, várias, tantas vezes contraditórias, que compõem as formas sucessivas do nosso espírito. Explicar-me-ei, dizendo que hoje dormimos arlequim, amanhã acordaremos pierrot. As vestes ficaram guardadas em qualquer guarda-roupa de nossas profundezas onde se amontoam peças de indumentária que variam até o infinito."
Meu Montanha com dedicatória |