Tuesday, March 08, 2016

A Coleção Invisível



Curiosa a leitura que o cineasta franco-baiano Bernard Attal faz do conto "A Coleção Invisível" de Stefan Zweig em seu filme homônimo. Há altos e baixos, mais estes que aqueles. Transportar a diegese da espiral inflacionária da República de Weimar para a decadência da região cacaueira do sul da Bahia é ponto muito positivo, que causará indignação apenas aos tolos sem imaginação. O problema está no elenco muito fraco (usar não-atores pode dar muito certo, como no neo-realimso italiano, mas pode também ser constrangedor) e na forçação de barra indesculpável que tem que necessariamente fazer com que role um affair entre o herói e a jovem que antes o repelia ferozmente. Outro problema está em toda a tragédia inicial da película, que se encaixa no enredo (e isso independentemente de confronto com o conto) como Pilatos no Credo.

A cena central, no entanto, em que o "colecionador" inescrupuloso (em Zweig, um colecionador de verdade) enfim trava contato com a coleção invisível do velho cego, funciona bem no filme, a ponto de justificar sua epifania. Gostei disso. Adorei também as tomadas da Itajuípe decadente, sobre a qual voou a vassoura-de-bruxa.

Camila mesma teve avô visitado pela Bruxa, que tudo lhe tomou: primeiro as colheitas e logo a vida, num câncer de garganta devastador.

Walmor Chagas, ator que desempenha o velho cego, estava de fato quase cego. E se suicidou pouco depois.


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