Thursday, July 24, 2014

Sonnets From the Vale do Capãoenses

Ivo e Maria


Jack Agüeros lançou Sonnets from the Puerto Ricans em 1996. A ideia era justamente fazer poemas sobre pessoas simples, que ordinariamente não receberiam poemas de ordinary que eram, a não ser claro que você estivesse apaixonado por elas.

O que não era bem o caso do Jack. Ou era, um modo diferente de amar. Sonetos porque ele quis usar uma forma 'clássica', para então criar um estranhamento :: a forma clássica para o trivial. O nome, claro, dialoga com o Sonnets from the Portuguese, da Elizabeth Barrett Browning (de quem, aliás, falei aqui).

Jack me inspirou. Prometi que desceria da jaqueira com dois livros, inda que embrionários :: um de adulto (Jaqueira Sutra), outro de poemas. Pois seja este algo como Sonnets from the Puerto Ricans, talvez Sonetos dos Habitantes do Capão.

Tenho já um para a Dona Helena, um para a Dona Maria, outro para o Salomão. Falta para o pequeno guia André, para o doceiro Ivo. E, claro, para a jaqueira.


1)
a Dona Helena faz pastel de jaca
com a mesma massa com que faz o pão
amassa os dentes da cansada faca
resgata a culinária do Capão
a Dona Helena mora na passagem
que leva os caminhantes pra Fumaça
adverte esperta à porta essa viagem
é muito longa desconheço raça
de gente que despreze um bom descanso
vem entra aqui demora um pedaço
que já te trago um pastel de jaca
vai ser do frito ou vai ser do assado?
Dois de cada :: e uma cerveja também
fique a Fumaça pra amanhã. Amém.

2)
Dona Maria inventou moqueca
de jaca coisa que ninguém mais faz
em todo o vasto Vale do Capão
a sua mãe de noventa e quatro anos
já soletra que o tempo é capaz
de tudo ela que tirou criança
para a luz ensurdecedora da
vida e ela que ainda puxa o terço
em português mestiço e latim terso
ora (direis) moqueca sabe a sal
e moqueca de jaca não existe
Dona Maria é cúmplice do vento
antes não tinha mas agora tem
a tradição é coisa que se inventa

3)
O sábio Salomão alberga as cores
nas retinas e passa pras paredes
e destas para os céus e para as árvores
Salomão vai pintando as suas sedes.
Salomão reina. O Vale do Capão
é fecundado pelos seus pinceis.
Com a hera exata e com o calango frio
disputa os muros deste vasto Vale
que ao ganhar suas tintas se despedem
de tudo aquilo que os batiza muros
já não fecham espaços :: antes cedem
não escondem tesouros :: compartilham.
Os muros se confundem com as nuvens
a resposta do tempo às ferrugens


Sonnet Substantially like the Words of Fulano Rodriguez One Position Ahead of Me on the Unemployment Line
 
It happens to me all the time/business
Goes up and down but I’m the yo-yo spun
Into the high speed trick called sleeping
Such as I am fast standing in this line now.
Maybe I am also a top, they too sleep
While standing, tightly twirling in place.
I wish I could step out and listen for
The sort of music that I must make.
But this is where the state celebrates its sport.
From cushioned chairs the agents turn your ample
Time against you through a box of lines.
Your string is both your leash and lash.
The faster you spin, the stiller you look.
There’s something to learn in that, but what?



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