Wednesday, May 15, 2013

Para o Bill Ward, com carinho




Antes da confirmação dos shows do Black Sabbath no Brasil, envolvi-me numa pequena discussão no Facebook por causa do Bill Ward. Nas redes sociais, todos o sabemos, a esquerda está sempre certa e não tolera divergências, a direita idem, e aqueles para quem tanto faz como tanto fez o Black Sabbath com seu baterista, também.

Os shows estão confirmados e, Megadeth de abertura e odioso site responsável pela venda de ingressos à parte, estou empolgado.

Mas eu queria mesmo é que o Bill viesse também.

I just love Bill e depois que tive a ideia de escrever este post fiquei pensando em porquês mas sabemos que amor não é chegado a porquês.

Talvez tenha sido a estupefação com o Paranoid. Nunca, nunca eu e meu irmão tínhamos ouvido tanta bateria assim num disco de rock. Verdade que eu tinha apenas 12 ou 13 anos, e avaliem o que uma "War Pigs", uma "Electric Funeral" não podem fazer num menino ainda cheirando a cueiro.

Talvez seja porque sei que nesses anos iniciais, em que os rapazes passavam fome em Birmingham e eles tocavam em bares onde ninguém ligava (como recém aconteceu com o Focus em Juiz de Fora), o Bill invertia as baquetas só pra fazer mais barulho e ver se aqueles idiotas prestavam atenção.

Talvez tenha sido o pôster enorme do Black Sabbath circa 1978 que eu tinha em meu quarto no Andaraí. O palhaço showman fazia uma careta. O Toni e o Geezer tinham as caras de paisagem de sempre. E o Bill, gordo e calvo, era  o cara que, se você esbarrasse com ele no metrô, jamais diria que ele tocava numa banda de rock, ainda por cima bateria. The guy least likely to rock in town. Elvis Costello included.

Talvez pelo fato de eu ter lido, em Black Sabbath: an Oral History, sobre sua luta com a cocaína. Aquela história de snowblind pra cá snow pra lá deixa marcas. À época ele estava numa halfway-home, isto é, tentando voltar para casa.

Ele, um dos melhores bateristas do mundo. O peso do Bonham com a técnica naïf de um lunático como o Keith.

Mas talvez eu me ressinta tanto assim do fato de o Black Sabbath não vir realmnete completo para o Rio, quando, miraculosamente e contra todos os prognósticos, os quatro ainda estarem vivos, seja por causa de uma tarde.

Por causa de uma tarde, provavelmente maio de 1983. Estávamos em Visconde de Mauá, mais precisamente em Maringá, mais precisamente no Torto. Voltávamos para o acampamento, lá pelas quatro, numa tarde de sábado quando, ao entrar no camping, ouvimos vindo de um carro a música "It's All Right", uma das duas de toda a discografia do Sabbath cantada pelo Bill. Reparem: o sujeito, provavelmente um paulista, não ouvia apenas Black Sabbath, o que já seria extraordinário naquela época. ELE OUVIA 'IT'S ALL RIGHT' DO BILL WARD. Joguei o saco plástico que carregava para cima e pus-me a pular. O Renato gritou e deu cambalhotas. O André abriu o Maravilha de São Roque e o Marcelo pegou o celular para pedir a Biba em casamento,embora celulares ainda não existissem.

Depois fomos molhar os pés nas águas puras do Rio Preto. Só pra ver se ficavam tão lavados quanto a alma.


No comments: