Paixões clubísticas à parte (e a minha é imensa aqui), é de todo lamentável que os milhares de cariocas que passam diariamente defronte à Sede Náutica do C.R. Vasco da Gama desconheçam o patrimônio artístico (e, em menor escala, histórico) oferecido aos seus olhos: toda a parede lateral do prédio e parte da frontal é recoberta de azulejos desenhados por ninguém menos que Burle Marx, nos primeiros anos da década de 50.
Os temas aqui são marinhos (muitos peixes, alguns moluscos, uma e outra estrela e concha), tanto pela localização do prédio (a lagoa) e de sua função (sede de remo) quanto pela fortíssima influência do Portinari em seus excepcionais paineis para o Palácio Capanema (antiga sede do Ministério da educaçã e Cultura).
Se faltam aqui os cavalos-marinhos do Portinari, o trabalho de Burle Marx no mínimo rivaliza ao combinar a azulejaria azul e branco com a querida cruz-de-malta....
o corpo adota gestos vagarosos
quando deita-se ao lado de quem ama
o corpo anárquico se faz devoto
e repete suas falas levianas
na esperança quem sabe de reter
o que é porto o que é delta o que é chama
tudo aquilo que o faz se derreter
tudo aquilo que o brinca de criança
pois desconhece o corpo os seus limites
assassinando aquilo que o cinge
o corpo se ata ao corpo amado como
a pedra aos pés dos suicidas
assim (tchau mundo) o corpo se deixa ir
e o resto é papo para boi dormir
Dante foi na Feirinha do Livro e dela voltamos com tês, que já eram horas de renovar os nossos aqui ::: O Tigre Tito, O Porco Narigudo e o clássico Coração Não Toma Sol, do Bartolomeu Campos Queirós.
Mas fomos mesmo porque o Na Casca do Ovo iria tocar. Na Casca do Ovo é a banda adorável do Júlio e da Giulia, que já vieram aqui em casa tocar "O Galinho Distante" para o Dante.
Assistimos ao começo, amamos. Já estava ótimo. Mas emendar "Sítio do Pica-Pau Amarelo" com "Sergeant Peppers" não se faz, Giulia.
Giulia, uma das madrinhas do Dante, dispensando, com muito prazer, as "oficiais", que só aparecem no aniversário.
a minha rua tem amolador
de facas ele sempre vem aos sábados
dividir esta tarde em duas como
ao meio se divide uma laranja
ao lancinante grito de sua roda
respondem os convivas de costume ::
menino cego com tesoura cega
só para ver de perto aquele canto
a empregada cearense com a peixeira
matará patroa que não quer a PEC
e tu minha doidinha carniceira
desces pianinho : o riso moleque
traz nos dentes instrumento de corte
com que causas minhas pequenas mortes
Passados 150 dias e quase na hora já de outros voos e cadernos, algumas fotos dos lançamentos de Voo Sem Pássaro e Caderno de Sonetos, na noite de 20 de dezembro de 2012 na livraria Al-Fárabi e aqui.
As fotos foram todas tiradas pela grande (epa!) Maria Ruch. Quais postar aqui? Guiou-me o único princípio de "candid picture", isto é, na foto nem eu nem o pobre enganado que está a comprar o livro sabemos que estamos sendo fotografados. Embora soubéssemos, claro. Arte é artifício.
E o que eu falava assim de tão importante para as pessoas? (Algumas expressões são verdadeiramente adoráveis) Ora, nada de relevante: trata-se de um estratagema de render esse negócio todo, por amor de as pessoas pensarem que a fila de autógrafos estava enorme. O poeta é um fingidor.
João
Maria
Letícia descobre que está na página 75
Luiza e Marina :: na aula eu não tinha 1/4 dessa atenção
Fui a Santa Cruz, de trem, na caça ao boteco Matadouro. Conforme se vê aqui, não me decepcionei, pois o botequim está extremamente bem conservado, mais do que (re)compensando a longa jornada. Fosse Europa, talvez chegasse já a outro país (principalmente se de Euro Star), aqui nem saí do município oh como acordei ufanista hoje!
Bem, pero lo que pasa é que, a caminho e descaminho do boteco, encontrei cousas muy interessantes de se ver. Santa Cruz é bairro que merece visita mais demorada e cuidadosa.
E olha que nem me refiro ao patrimônio histórico pp. dito, como o Mataduro Industrial e o Palacete Princesa Isabel, construções do século XIX, a Ponte dos Jesuítas, de meados do XVIII (!) e, pasmai!, o Hangar do Zeppelin, do século XX.
toda a tarde te espera :: como quando
me deito (sempre tarde) e espero o sonho ::
pão e água de prisioneiro que se
conhece a ponto de mais nada ser
toda a tarde te espera :: os elementos
naturais ficam como que suspensos
obedientes a lógicas só suas
todas árvores e seus galhos pensos
todos pássaros e seus cantos sóbrios
o crepúsculo e seus matizes densos
toda a tarde te espero e se adormeço
sonho sonho ligeiro que chegaste
quando as cores do sol são mais difusas
e a tarde se afrouxa em suas costuras
Uma das pérolas da humilde coleção, CD comprado com Eric na deliciosa feirinha da Calixto há alguns anos, os Fresh Maggots eram dois rapazes ingleses de apenas 19 anos que em 1971 lançaram seu único trabalho. Ou seja, mesmo há mais de 40 anos nem sempre música de grande qualidade emplacava.
Estilo? Folk Rock. Melhor: Acid Folk, já que usam um bocado de guitarra elétrica (o Bob já dissera que podia...)
Amo "When She Laughs". Tão apropriada e verdadeira. Os grifos na letra são do papai aqui.
When she laughs her face lights up
Face lights up
When she laughs her face lights up
Face lights up When she laughs the sun and the stars Are put to shame by the brightness of her smile
Of her smile
And I love her, she’s all mine.
When I’m sad she makes me laugh
Makes me laugh
When I’m sad she makes me laugh
Makes me laugh
When she laughs all my problems
Are swept away by the brightness of her smile
Of her smile
And I love her, she’s all mine.
When she laughs she makes life worth while
Life worth while
When she laughs she makes life worth while
Life worth while
When she laughs all my problems swept away
By the brightness of her smile
Of her smile
And I love her she’s all mine.
Escrevi recente sobre cornucópias nas fachadas cariocas aqui, mas parece que o tema se desdobra cornucopianamente.
É preciso ser um die-hard fâ do Black Sabbath para saber que eles têm música chamada... "Cornucopia", escondida no Lado 2 depois da clássica "Snowblind". "Snow", aliás, era para ser o nome do anódino (falo do nome!) Volume 4, mas a galera da gravadora vetou já que snow aqui pode ser muita coisa, anos depois seria até nome de albino, mas nunca aquele fenômeno metereológico típico dos países frios.
Voltando à "Cornucopia", a letra do Butler trata da sociedade de cosnsumo, de maneira, claro, crítica.
Too much in the truth they say
Keep it 'till another day
Let them have their little game
Illusion helps to keep them sane
Let them have their little toys
Fast sports cars and motor noise
Exciting in their plastic place
Frozen food in a concrete maze
Evidente que se pode enxergar "referência" aí à cornucópia. Neste desejo sempre renovado pela mídia e propaganda de se possuir cada vez mais. Mas, a-há, tal qual em "Changes", é na forrma que o conteúdo melhor se expressa. Porque, como diria Conselheiro Acácio, forma é conteúdo. "Changes" fala de mudanças na vida amorosa. mas é musicalmente -- a primeira vez que o Black Sabbath usava mellotron -- que vemos as mudanças, isto é, a banda procurava novos caminhos. (Para grande dissabor do Ozzy.)
Também aqui. Não é só ao criticar a sociedade de consumo que temos "referência" ao corno que simbliza abundãncia e prosperidade e fertilidade. Mas ao empregar uma série ABSURDA de riffs, a música é a plenitude em pessoa. Enquanto muitas bandas medíocres lutavam e lutam para encontrar um riff marcante para uma música (algumas extremamente medíocres encontravam um riff para o resto da carreira, cf. "Satisfaction"), Mr. Iommi não apenas nos deleita com o riff obrigatório (o soturno e pesadíssimo inical não parece descrever um monstro com dor de cabeça tendo que pagar o imposto de renda?) como nos fornece bônus. E, qual o plural de bônus?, bônuses.
Tanto assim em menos de 4 minutos.
É Dio quem lembra, anos depois, claro, que certa vez, Toni lhe oferecia infinidade de riffs que ele já tinha gravado em fita cassete, como que a dizer: "Just pick one, pal". E Dio termina a lembrança afirmando que aquele era o Mr. Riffman em pessoa.
Escrevi sobre azulejo de botequim em geral aqui, post que, se os números não estão tresloucados, foi já lido por 396 pessoas (!).
Depois achei que era hora de micromonografias e escrevi aqui apenas sobre a combinação azul / verde piscina e aqui sobre a combinação azul / rosa, a qual denominei "constantemente amanhecendo", com direito a poema da Adélia.
É chegada portanto a hora dos botequins com a rara combinação branco / roxo que, tal como as acima, tem até o momento apenas três registros.
O primeiro é o Café e Bar Varnhagen, o mais conhecido dos três, não por etnocentrismo, mas por já ter servido de cenário para comerciais, por participar do Comida di Buteco e por conquistar merecida estrela no Rio Botequim do Guilherme Studart.
Café Bar Varnhagen - Tijuca
Café e Bar Varnhagen - Tijuca
Bem menos conhecido, embora em região central, na verdade, atrás da Central, é o Café e Bar Pradana. Nome a ser confirmado ainda, fiquemos com o que consegui arrancar do desconfiadíssimo dono.
Café Bar Pradana - Central do Brasil
E nas franjas da nossa cidade, depois de Bangu, Campo Grande e mesmo Paciência, o Bar e Restaurante Matadouro, no bairro de Santa Cruz. O que acontece neste grande bar, de pé-direito altíssimo, é que como se não bastara a azulejaria em todas as paredes, há ainda um excepcional painel de azulejos coloridos, realizado por um tal de J. Celino. O painel retrata típica estância gaúcha. Um dos motivos de o atual dono, Seu Chico, se fazer passar por Gaúcho, para seu agrado.
nunca estás só, viajas
e teus desejos mais tresloucados são teus pajens
que te pegam pela mão como a uma criança
para a beira do abismo
um passo
e a pele é pasto
de carne onde me dessedento
apenas quando as pálpebras se fecham juntas ouvimos
(no sono)
que o vizinho da frente assoviava
assovia
o barbeiro de sevilha
Fumaria um cigarro com Szymborska
se eu fumasse
se eu fumasse um cigarro com Szymborska
o mesmo cigarro
se eu recebesse Krótkie Zcie Naszch Przodków
como beijo
de seus lábios tisnados de nicotina
não seria pequena a chance
de tornar-me
poeta
(e após perder o guarda-chuva
no metrô
discursar no Achados e Perdidos
sobre outras maiores perdas)
Antes da confirmação dos shows do Black Sabbath no Brasil, envolvi-me numa pequena discussão no Facebook por causa do Bill Ward. Nas redes sociais, todos o sabemos, a esquerda está sempre certa e não tolera divergências, a direita idem, e aqueles para quem tanto faz como tanto fez o Black Sabbath com seu baterista, também.
Os shows estão confirmados e, Megadeth de abertura e odioso site responsável pela venda de ingressos à parte, estou empolgado.
Mas eu queria mesmo é que o Bill viesse também.
I just love Bill e depois que tive a ideia de escrever este post fiquei pensando em porquês mas sabemos que amor não é chegado a porquês.
Talvez tenha sido a estupefação com o Paranoid. Nunca, nunca eu e meu irmão tínhamos ouvido tanta bateria assim num disco de rock. Verdade que eu tinha apenas 12 ou 13 anos, e avaliem o que uma "War Pigs", uma "Electric Funeral" não podem fazer num menino ainda cheirando a cueiro.
Talvez seja porque sei que nesses anos iniciais, em que os rapazes passavam fome em Birmingham e eles tocavam em bares onde ninguém ligava (como recém aconteceu com o Focus em Juiz de Fora), o Bill invertia as baquetas só pra fazer mais barulho e ver se aqueles idiotas prestavam atenção.
Talvez tenha sido o pôster enorme do Black Sabbath circa 1978 que eu tinha em meu quarto no Andaraí. O palhaço showman fazia uma careta. O Toni e o Geezer tinham as caras de paisagem de sempre. E o Bill, gordo e calvo, era o cara que, se você esbarrasse com ele no metrô, jamais diria que ele tocava numa banda de rock, ainda por cima bateria. The guy least likely to rock in town. Elvis Costello included.
Talvez pelo fato de eu ter lido, em Black Sabbath: an Oral History, sobre sua luta com a cocaína. Aquela história de snowblind pra cá snow pra lá deixa marcas. À época ele estava numa halfway-home, isto é, tentando voltar para casa.
Ele, um dos melhores bateristas do mundo. O peso do Bonham com a técnica naïf de um lunático como o Keith.
Mas talvez eu me ressinta tanto assim do fato de o Black Sabbath não vir realmnete completo para o Rio, quando, miraculosamente e contra todos os prognósticos, os quatro ainda estarem vivos, seja por causa de uma tarde.
Por causa de uma tarde, provavelmente maio de 1983. Estávamos em Visconde de Mauá, mais precisamente em Maringá, mais precisamente no Torto. Voltávamos para o acampamento, lá pelas quatro, numa tarde de sábado quando, ao entrar no camping, ouvimos vindo de um carro a música "It's All Right", uma das duas de toda a discografia do Sabbath cantada pelo Bill. Reparem: o sujeito, provavelmente um paulista, não ouvia apenas Black Sabbath, o que já seria extraordinário naquela época. ELE OUVIA 'IT'S ALL RIGHT' DO BILL WARD. Joguei o saco plástico que carregava para cima e pus-me a pular. O Renato gritou e deu cambalhotas. O André abriu o Maravilha de São Roque e o Marcelo pegou o celular para pedir a Biba em casamento,embora celulares ainda não existissem.
Depois fomos molhar os pés nas águas puras do Rio Preto. Só pra ver se ficavam tão lavados quanto a alma.
Pede a namorada poema
e não aceita que eu me esquive
diz que eu escreva qualquer coisa
porém que seja em verso livre
é melhor cumprir a tarefa
temo que de beijos me prive
ah logo eu que ando tão doido
amando como nunca estive
pena flutuante no vento
alucinado bateau ivre
como eu gostara de pedir
que a vida me guarde e me livre
desses caprichos de amada
de flechas Tião meu corpo crive
mas não peçam a um soneteiro
um poema de verso livre
só por ser ela assim tão linda
só por ser ela tão incrive
só por ter ela a certeza
de ter my heart captive
que fiz o meu dever e bom
namorado, não me contive:
bonitinha que tem besourinhos do céu nos olhos tanto tanto te amo me deixa te beijar para além me deixa te amar para além dos calendários e que cinco vezes cinco vinte e cinco vezes cinco cento e vinte e cinco de anos juntos pra começar só pra começarmos
quando o pássaro azul entrou em casa
talvez fosse sábado :: Dante e eu
nos entreolhamos ainda incertos
se haveria mensagem em seu canto
grave e pausado :: na rede sonhávamos
com pequena praça clara estendida
preguiçosa do lado de uma praia
em que se contam histórias de bichos
e de gentes e de árvores em línguas
de bichos e árvores quando o sol
coado pelas tramas da cortina
veio lamber-nos a face e era
sábado azul a nos entrar em casa
talvez fosse pássaro