E eu, que tanto amo trilhas-sonoras (estão aí Wim Mertens, Philip Glass, Gabriel Yared, Zbigniew Preisner e, claro, Michael Nyman para prová-lo), fico embasbacado com filme em que trilha não há. Herança de Dogma? Caminhos similares ao do malaio Tsai Ming-liang? Porque música há, mas apenas incidental. Temos as notas que emergem desafinadas do harmônio tocado pelo professor primário. Temos a dança dos campônios na Festa da Colheita, temos Bach na missa. Mas este é filme de silêncios.
De Haneke eu já assistira ao igualmente perturbador A Professora de Piano. Para quem sentir cócegas de interesse: cuidado. Haneke gosta de explorar não apenas nossas comezinhas hipocrisias, mas também a sordidez que se lhe pode acompanhar.
Não é um filme didático (como é, por exemplo, O Menino do Pijama Listrado). Dizer que ele explora as origens do nazismo é dizer pouco. Mas é impossível deixar de fazer as contas. Afinal, são aquelas crianças, perturbadoras e perturbadas, torturadoras e torturadas, de 10, 11, 12 anos -- são aquelas crianças que estarão no ápice de suas forças físicas para ingressar as fileiras das SS, possivelmente já como oficiais.
Impossível também não lembrar do filme mais terrível de Pasolini, cujo nome não digo. Afinal, há uma representação quase esquemática das classes sociais e o que estas representam: o barão dono de terras (nobreza / burguesia afluente); o médico (profissional liberal / ciência); o pastor protestante (o velho cristianismo, sempre mancomunado com o poder). Três homens hediondos, em especial o segundo. Como sabem manter tudo sob a capa grossa das aparências, seguem. Nem sempre felizes (cai-se do cavalo logo no início, quebra-se uma clavícula), mas sempre no poder.
1 comment:
Eu vi esse filme no cinema. Fiquei atordoada... de fato, chocante. E, no cinema, no escuro, em que você não tem escolha a não ser ficar cara a cara com a tela imensa, extremamente claustrofóbico...
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