Por onde começar? Quero falar do Saramago, não sei por onde. Passarolas, porcos, soldados ou jangada?
Vamos pelo porco. Aruanda, blogueira amiga, pergunta-me se a receita original do Umngqusho leva porco. Mas como assim, original? Claro que a pergunta é válida, mas me lembro de uma baiana, fazedora e vendedora de acarajés, quando lhe contaram como era a iguaria em outros países... Ela meneava a cabeça desdenhosamente e repetia que aquilo não era acarajé, que acarajé só o dela. Que sorte, hein baianinha, nasceste justo no país onde os corretos acarajés são feitos. Ou seja, ela assumia uma posição essencialista, daquelas marco zero.
Enfim, acho que a receita original de Umngqusho não leva porco, ao menos a variante que peguei não falava no suíno, mas doravante nossa receita - minha e da Lúcia e do Saramago - levará. Mesmo porque aquele labrego de Azinhavra, que inda ontem se encantou, fez o elogio do porco em Viagem a Portugal, quando em Bragança:
"[O viajante], enfim, caiu em meditação diante das "porcas" de granito, dos "berrões", também assim chamados: famoso animal este que em vida se desmanda, fertilíssimo, em bacorinhos, ranchadas de quinzena, e em morto se desmancha em pernis, lombos, costelas, orelhas, chispes e coiratos, dadivosos até ao fim (...) Para a gente das cavernas e das toscas cabanas que vieram depois, o porco devia ser a obra-prima da criação. Mais magnífica ainda a porca, pelas razões já ditas. E quando a Idade Média levantou os pelourinhos dos municípios, pôs como base deles a porca, animal protector, emblema e algumas vezes guarda. Os povos nem sempre são ingratos."
Aproveitemos, pois, orelhas, chispes e coiratos em nosso Umngqusho, tratando-o com a dignidade que ele merece: não a idolatria essencialista, mas a reivenção.
E olha que sou vegetariano!, de araque mas sou! Tanto que caldo de carne não entrou aqui!! =)
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