O espírito do Mr. Keating baixou de vez em mim e, se a turma corresponde, aí que as invenções se sucedem e ora é um varal de poesia, ora é uma leitura de versos com direito a camisas de futebol e chutes na bola, outra hora eu me fantasio de turco para que meus alunos do 9o Ano pratiquem perguntas...
Por favor, não vejam aqui autopromoção ou coisa do gênero.
Mas foi dos presentes de aniversário mais bonitos que já ganhei.
Depois posto a letra.
YOU DESERVE THE BEST
Monday morning at seven o’clock as the class begins Silently closing our classroom door ‘Cause we were late like the classes before We sit down at look at Evandro making a “sorry face” Surprisingly, instead of scolding us He was with a smile from ear to ear
You (when you are sad, we get sad) Deserve (but we don’t know what to do) The best (we wish we could help and could support you) You deserve the best while living with Dante and Preta For so many years
We saw the stories of Idgie and Ruth and we liked it a lot Not only of them, but also Neil and Todd Fortunato is also part of the plot Oh captain, we stand up for you Teacher, you changed us Why would you treat us so perfectly How can we thank you kindly
You (we got to know our true selves) Deserve (a teacher like no one else) The best (you taught us how to enjoy our lives) You deserve the best while living with Dante and Preta For so many years
Just like an epiphany we could realize That you’re more than the best teacher ever But also will be a true friend forever
Happy (is how we feel in your class) Birthday (what you will feel we can’t guess) Evandro (love is the one thing Juquinha’s can’t buy) Lives will go on and time will go by But forever you will be in our minds You Deserve the Best…
Quando me encontrei com o Saramago, dei-lhe um exemplar de meu livro Taipa, dizendo-lhe "Não é nenhum Camões, mas...".
(É que ele falara sobre Camões [Que farei com este livro?])]
E ele de pronto replicou: "Ora, mas Camões antes de ser Camões também foi Luis". Só depois me dei conta (quer dizer, não me dei conta, a Bia se deu conta, por ela e por mim), que ele estava já brincando com o meu nome. (É que sou Evandro Luis, tenho que me lembrar). Ligeiro, o moço.
Há muito desejo escrever sobre passarolas e rock progressivo, não sobre este e depois aquelas, mas sobre a relação entre os dois.
Este post não é a realização do meu desejo, mas como este texto haveria de lançar mão do Saramago, cito-o aqui, em outra tosca homenagem, em belo texto do seu romance mais belo, o Memorial.
"Não tinham medo, estavam apenas assustados com a sua própria coragem. O padre ria, dava gritos, deixara já a segurança do prumo e percorria o convés da máquina de um lado a outro para poder olhar a terra em todos os seus pontos cardeais, tão grande agora que estavam longe dela, enfim levantaram-se Baltasar e Blimunda, agarrando-se nervosamente aos prumos, depois à amurada, deslumbrados de luz e de vento, logo sem nenhum susto, Ah, e Baltasar gritou, Conseguimos, abraçou-se a Blimunda e desatou a chorar, parecia uma criança perdida, um soldado que andou na guerra, que nos Pegões matou um homem com o seu espigão, e agora soluça de felicidade abraçado a Blimunda, que lhe beija a cara suja, então, então. O padre veio para eles e abraçou-se também,
(...) a máquina diminui de velocidade, quem diria que tão facilmente se poderia ser piloto nos ares, já podemos ir à procura das novas Indias. A máquina deixou de subir, está parada no céu, de asas abertas, o bico virado para o Norte, se se está movendo, não parece. (...)
Desce a passarola um pouco mais, com algum esforço se observa a quinta do duque de Aveiro, é certo que estes aviadores são principiantes, falta-lhes a experiência que permitiria identificar de relance os acidentes principais, os cursos de água, as lagoas, as povoações como estrelas derramadas no chão, as escuras florestas mas lá estão as quatro paredes da abegoaria, o aeroporto donde levantaram voo, lembra-se o padre Bartolomeu Lourenço de que tem um óculo na arca, em dois tempos o vai buscar e aponta, oh que maravilha é viver e inventar,"
Por onde começar? Quero falar do Saramago, não sei por onde. Passarolas, porcos, soldados ou jangada?
Vamos pelo porco. Aruanda, blogueira amiga, pergunta-me se a receita original do Umngqusho leva porco. Mas como assim, original? Claro que a pergunta é válida, mas me lembro de uma baiana, fazedora e vendedora de acarajés, quando lhe contaram como era a iguaria em outros países... Ela meneava a cabeça desdenhosamente e repetia que aquilo não era acarajé, que acarajé só o dela. Que sorte, hein baianinha, nasceste justo no país onde os corretos acarajés são feitos. Ou seja, ela assumia uma posição essencialista, daquelas marco zero.
Enfim, acho que a receita original de Umngqusho não leva porco, ao menos a variante que peguei não falava no suíno, mas doravante nossa receita - minha e da Lúcia e do Saramago - levará. Mesmo porque aquele labrego de Azinhavra, que inda ontem se encantou, fez o elogio do porco em Viagem a Portugal, quando em Bragança:
"[O viajante], enfim, caiu em meditação diante das "porcas" de granito, dos "berrões", também assim chamados: famoso animal este que em vida se desmanda, fertilíssimo, em bacorinhos, ranchadas de quinzena, e em morto se desmancha em pernis, lombos, costelas, orelhas, chispes e coiratos, dadivosos até ao fim (...) Para a gente das cavernas e das toscas cabanas que vieram depois, o porco devia ser a obra-prima da criação. Mais magnífica ainda a porca, pelas razões já ditas. E quando a Idade Média levantou os pelourinhos dos municípios, pôs como base deles a porca, animal protector, emblema e algumas vezes guarda. Os povos nem sempre são ingratos."
Aproveitemos, pois, orelhas, chispes e coiratos em nosso Umngqusho, tratando-o com a dignidade que ele merece: não a idolatria essencialista, mas a reivenção.
E olha que sou vegetariano!, de araque mas sou! Tanto que caldo de carne não entrou aqui!! =)
No dia da estreia do Brasil na Copa achamos que pegava bem comermos um Umngqusho, prato sul-africano de origem Xhosa e um dos favoritos do Mandela.
Embora Lúcia e eu achássemos a receita muito conservadora quanto aos temperos, não carregamos muito a mão, pois, sendo a primeira vez que fazíamos Umngqusho, convinha ser mais fiel que inovador. Para ver como ficava e, doravante, ir inventando e transformando.
Usamos pimenta de cheiro, pimenta branca e, claro, louro. Da próxima vez vamos encher nosso Umngqusho de pedaços de porco rumo à felicidade coletiva pois a vida é uma só e o porco é sagrado para nós pagãos.
Ficou muito bom, tudo belissimamente acompanhado por quibebe (mais Áfricas) e frango grelhado untado de geléia de physalis. Para beber, Austral, uma cerveja chilena da Patagônia, tão boa e aromática que ganhará post em separado. A geleia de physalis também. Não fujamos do assunto que a estrela da vez é o Umngqusho, de que Lúcia gostou tanto que fará em sua casa para o próximo jogo do Brasil. Aliás, aqui instituo (este Talisker e esta lua põem a gente comovido como o diabo): jogo do Brasil na África será dia de comer Umngqusho.
Segue a receita para quem quiser aderir. À galera do copidesque que achar que repeti demais a palavra Umngqusho: foi de propósito, para que todos aprendêssemos de vez grafia e pronúncia.
- 200 gramas de milho seco (pode substituir pela canjica) - 200 gramas de feijão manteiga - 200 gramas de feijão fradinho - 1 colher de sopa de caldo de carne - 1 colher de sopa de caldo de legumes - 2 litros de água
Coloque tudo para cozinhar em uma mesma panela. Depois de quatro horas está pronto para servir.
PS: Este post é dedicado aos Xhosas e à minha colega Mônica Lima, Xhosa exilada no Rio, que veste colares, vive intensa e gosta de Áfricas.
Domingo é dia de pedir comida, Santa Lúcia n'est pas chez nous. Mas houve falha de comunicação, eu queria um coisa, o atendente do Jambeiro dizia não ser possível, daí desliguei e fui cozinhar.
Mas não era dia de cozinhar. Não me preparara. Então vamos para comida de acampamento, comida de solteiro, comida não-comida: Miojo.
Mas como, como isso não podia ficar assim, alquimizei. Daí fiz uma redução com mel de laranjeira, derramei o Macallan maravilhoso que bebia e, last but not least, espalhei Zimbro, erva sem a qual não se vive.
Filho e neto de bibliófilos, rodeado de livros e ganhando livros de presentes, não causa espécie que o mocinho enfim os descubra e já os comece a ler, sensorialmente.