Tuesday, November 10, 2020

'Mu', Riccardo Cocciante

 

Não, juro que não é provocação ao gado bolsonarista, já que não uso o blog para isto e deixo postagens políticas para o face e o insta. Chama-se Mu o trabalho de Riccardo Cocciante lançado em 1972, revelador, se ainda fosse necessário prová-lo, dos ventos progressivos que sopravam no Bel Paese na primeira metade dos anos 70. Isto é, o cantautore nascido no Vietnã (e ao contrário de um Nick Drake nascido na Birmânia e um Fred Mercury no Zanzibar, por lá morou até os 13 anos) não era de fatura progressiva, mas surfou na onda, assim como I Giganti e Dik Dik.

E surfou muito bem, num disco ótimo. Creio que não será impossível torcer o nariz para certa impostação pop ou algum melodrama (presente em outros discos do movimento), mas não ser tocado pela beleza de "Coltivò tutte le Valli" e "Era Mattino sul Mondo", com suas doses generosas de mellotron, será revelador de cinismo

Não se tocar com a tecladeira (ele próprio, o Riccardo, toca piano e moog e temos o Paolo Rustichelli, antes de lançar o Opera Prima) será indício de surdez.
 
Esses são os destaques, num disco que de resto lembra um Famiglia degli  Ortega ou um Blocco Mentale, aquele clima de Deus e cannabis.
 
Não figura no 50 Album per Scoprire il Rock Progressivo Italiano degli Anni '70, de Riccardo Storti e Donato Zoppo. Nem nos 100 álbuns do Rock Progressivo Italiano, do Andrea Parentin ou na seção italiana do Prog 40, mas recebe elogios do Paolo Barotto em The Return of Italian Pop e foram estes que, há muitos anos, me fizeram correr atrás do CD.
 
 E ainda temos o maior destaque de todos: "Corpo di Creta", epifania grandiosa, que encerra o disco de forma sublime, ombreando com o quê de melhor se fez no rock progressivo italiano.
 

 

No comments: