Sunday, June 09, 2019

Viajar pelos Gerais : Rosa



De certo e certeiro modo, esta viagem de agora continua a de 92, quando, partindo de Brasília, conheci Buritis, Arinos, Urucuia, São Romão, Barra do Guaicuí, Pirapora. Ambas as viagens com o mesmo inesgotável norte: conhecer localidades da obra e vida do Guimarães Rosa.

Lembro-me razoavelmente bem da aventura de 92, eu sozinho com a câmera analógica, rolos de filme, o xerox do livro Itinerário de Riobaldo Tatarana, do Alan Viggiano, o romance Capela dos Homens, de Benito Barreto.

Lembro que Buritis e Arinos (que já se chamou Barra da Vaca, nome de um conto de Tutaméia) não me impressionaram, mas a coisa começou a crescer em Urucuia. Como não poderia deixar de ser. Urucuia recém se emancipara (essa praga), mas as ruas eram ainda de grama (!), num botequim tocou "Come Together", joguei sinuca com o povo, o espírito de Deus andou sobre as águas e na manhã seguinte, não sem dor de cabeça, naveguei no Rio Urucuia, o rio mítico, onde tanto boi berra. As veredas.

Fortes lembranças também de São Romão, que seria, afinal, o município do Mutum, onde morava Miguilim, o que já justificaria qualquer viagem a qualquer momento. Em Barra do Guaicuí, que já foi Guararavacã do Guaicuí, a igrejona em ruínas, a gameleira, o corpo de Fernão Dias Paes Leme e, mais importante, o lugar próprio em que Riobaldo descobre ser amor mesmo o que sente por Diadorim. Minha conversa com o moço ao pé da igreja, a linguiça enjeitada, os remorsos.

Em Pirapora, sobretudo o Rio São Francisco e, fora das razões da viagem, a piranha no Bar do Egnaldo.

Então, uma viagem que retomo bagatela de 27 anos depois. Uma vida.

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