Tentaram mudar o nome da cidade para Guimarães Rosa, até que alguém lembrou que o próprio já falara do sagrado que é o lugar de nascença, o nome ('Tudo que tem nome me pega'), e deixaram como ele a conheceu e amava. Já se chamou Vista Alegre, genérico demais, Cordisburgo é muito mais bonito, o burgo do coração. Já se chamou também Arraial do Saco dos Cochos, este sim nome tão bonito quanto.
Eu estava para ir a Cordisburgo desde 1988. Nesse ínterim, o Muro de Berlim caiu, o Vasco foi campeão da Liberta, fui à Índia três vezes, casei, separei, abandonei a Psicologia, escrevi poemas, fui ao Sri Lanka, Malta, Eslováquia, voltei a Milho Verde, fiz-me professor, conheci Dante e Camila e ouvi cigarras agarradas às tamarindeiras do Grajaú.
Cordisburgo me esperava.
Ouvi de Seu Brasinha (
aqui) cujo museu-de-tudo é visita quase tão imprescindível quanto a Casa Museu João Guimarães Rosa a história:
Um conhecido seu, dali de perto, queria conhecer o Guima e então pegou o trem bem em frente à casa, que o conduziu a Leopoldina. De lá andou até o Itamaraty, onde fez-se apresentar dizendo apenas ser de Cordisburgo, queria conhecer o João. Quanto respondeu que não tinha nada marcado, negaram-lhe a entrada, mas um porteiro, sensibilizado, foi lá ter com o chefe do Serviço de Demarcação de Fronteiras para segredar-lhe que na porta do palácio estava um conterrâneo.
Rosa dispensou todos os funcionários e pediu-lhe que o conterrâneo subisse. Quando este chegou, Guimarães nem levantou para abraçá-lo nem nada. Ficou repetindo 'Cor-dis-burgo....', 'Cor-dis-burgo'.