Monday, January 07, 2019

Nilton Bravo do Arco Teles


Por estranho acaso paramos hoje Dante e eu no centro da cidade (ou "na cidade", como não tão antigamente assim se referiam ao centro do Rio), levados num 422 infernalmente quente mas que, ao menos, tinha janela de onde vinha vento generoso. Ouvimos do motorista que aquele é um "trem-bala": tem que voar para refrescar um pouco. Tá certo.

Depois de um mate na esquina de Graça Aranha com Nilo Peçanha, andamos um pouco pelo Castelo, cuidando para não afundar os pés nas poças de piche, que o asfalto se derretia e um soldado fritava fácil um ovo naquele asfalto. Quando levantamos a cabeça, estávamos na Praça XV e quis atravessar com ele o Arco dos Teles, quem sabe chegar ao Basquiat.

Eu sabia, por óbvio, que no caminho está o Café e Bar Arco Teles, fechado há anos e que, segundo descrição de uma das primeiras edições do Rio Botequim e segundo minha memória, que também já bebi cerveja ali, onde se encontra um verdadeiro "museu Nilton Bravo", com nove painéis do mestre -- o maior acervo do pintor. Em 1999 o guia já advertia o mau estado de conservação e clamava por restauração urgente.

Pois.

Pois hoje havia meia portinha aberta. E embora Dante me puxasse pelo braço, consegui enfiar a cabeça na escuridão e vislumbrar as pinturas! Depois conversei com o que parece ser um dos proprietários. Eles têm ciência do tesouro e pretendem, sim, restaurar os painéis. Ouvi "Não tem como não restaurar". Ele disse serem oito e que até agora encontraram sete. Tenho aqui a informação de que são nove. Ele disse também que não sabe se continuará sendo um bar: vão restaurar e depois alugar.

Mas que pelo menos esse tesouro da arte naïf carioca fique preservado.

Em meio à enxurrada de notícias ruins, fique esta. Junto, claro, com a do final do ano passado que enfim tombava diversos Bravos em nossa cidade.

Fotos originais de Custodio Coimbra, que fotografei do Rio Botequim 1999.



No comments: