Saturday, August 27, 2016

Crônicas Marroquinas VIII ::: Os Mosaicos de Volubilis e Uma Questão



Apreciar os mosaicos de Volubilis, cidade romana em Marrocos do século III D.C., trouxe-me antes de mais nada, emoção imensa. A maioria deles é de mosaicos figurativos e, ainda que muitas vezes já desgastados e esmaecidos pelo tempo, falamos aqui de quase dois mil anos, a sensação de movimento que transmitem, aliada à mística de sua enorme longevidade, lembrou-me um poeta latino do século VI, por sinal escrevendo acerca dos mosaicos de Ravena : Aut lux hic nata est aut capta hic libera regnat :: "Ou a luz nasceu aqui, ou, aqui aprisionada, reina livre".

Conforme escrevi acima: "desgastados e esmaecidos pelo tempo". Os mosaicos ali são os verdadeiros mosaicos, construídos, tessela a tessela, pelo artista do ano 217, seja para uma piscina, seja para um pátio, seja para um átrio. Que o mosaico que hoje eu veja seja exatamente o mosaico visto pelo volubilense de quase 2 mil anos é, para mim, garantia de um frisson a mais, cereja no bolo da apreciação estética em si.

Saramago teria ficado doudo. Em seu maravilhoso Viagem a Portugal, indigna-se com uma imagem de N. Senhora original, exposta às intempéries do tempo numa esquina de Braga. Clama que ela seja colocada na segurança de um museu e ali, na esquina bracarense, seja posta uma réplica, de modo a protegê-la das intempéries. Os mosaicos de Volubilis sofrem não apenas sol causticante e chuva, mas as consequências de um turismo de massa, o que inclui flashes, pisadas, lanhadas.

Sobre os profetas de Congonhas paira a mesma polêmica, que creio ser comum em muitíssimos outros locais.

Eu, romanticamente pensando, tendo a preferir o original ali. Ver o que os seus contemporâneos viram. Mas reconheço que a questão não pode se esgotar nisso. 

















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