Tuesday, December 22, 2015

A fadiga dos desencontros



sei que isto pode soar empáfia, mas se soar que diferença? : sou aquele que mais compreende o Dante, eu que tantas vezes o incompreendo, a ponto de já ter escrito isto :

(...)
a fadiga dos desencontros sem
que eu entenda o que foi que se perdeu
e eu não menos exilado :: olhos baços
em permanente atrito a dislalia
o nosso estar no mundo :: nossas mãos

outro dia num táxi em que ele se encontrava absurdamente agitado, o taxista nos quis fazer crer, a mim e à babá, e talvez também ao Dante e a ele próprio, que o problema do Dante era ser surdo. eu estressado no banco de trás achei graça e raiva mas o que replicar? deixa ele achar. mas comecei a escrever isto para dizer que se sou aquele que mais compreende o Dante às vezes (o advérbio aqui indica frequência e dúvida) é ele que mais me compreende. parece piegas e possivelmente é. me lembro sempre daquele pai em goiânia que pegou o filho e se espatifou com ele no estacionamento de um shopping (um shopping, para que não houvesse poesia). porque a vontade às vezes é esta, tomá-lo pela mão, tomá-lo pela mão neste mundo soterrado pelo entulho da indiferença e dos clichês e da surdez e

Friday, December 18, 2015

Bodas de Trigo



No final de dezembro de 2012 a situação era a seguinte : no dia 17 (uma segunda-feira) era aniversário da minha mãe. No dia 19 era aniversário do Dante (4 anos!). No dia 20 eu lançaria não um, mas dois livros de poesia, o Caderno de Sonetos e o Voo sem Pássaro! E o dia 21 era sexta-feira. E depois vinha o Natal, essas coisas.

Releiam, por favor. Perceberam que eu tinha coisas pra fazer durante toda a semana, exceto na terça-feira, dia 18? Isso me encheu de pânico de tal modo que.

Bom, pensei, e se, e se eu pedisse aquela menina bonita em namoro? Aquela baiana que mora em São Paulo e que está em Londres e com quem converso (internet e telefone) religiosamente todos os dias há pouco mais de três meses?

Não tínhamos nos visto ainda pessoalmente, mas pedi. Ela aceitou.

Então agora dezembro é assim : 17 aniversário da mãe, da Vovó Lelé que este ano foi descansar, dia 18 é nosso aniversário, dia 19 o do Zuzu. E vem mais livro por aí.

Monday, December 14, 2015

Ha-Yang Kim :::: Canções para Além da Humanidade


Esse clichê East meets West já cansou. Quando escrevi sobre Goa preferi mesmo a palavra 'encontrão' a 'encontro'. O problema, ao menos para mim, é que a música colocada sob o guarda-chuva "encontro de culturas" quase sempre me agrada. Muito.

Este trabalho da violoncelista e compositora coreana Ha-Yang Kim foi inspirado no poema "Threadsuns", de Paul Celan, romeno que escreveu em alemão, ele mesmo um encontro / desencontro de culturas.

É quarteto que entraria, fácil, em CDs do Kronos, como o Black Angles (1990) ou, ainda mais, Night Prayers (1994).

O primeiro movimento, mais hermético, me lembra Sofia Guibaidulina, sem ser tão difícil, que da Sofia eu quase sempre só consigo descobrir que não gosto após uma dúzia de audições. Profundamente emotivo, o final do terceiro movimento arrepia de prima.


O CD pode ser comprado aqui




Saturday, December 12, 2015

O Bravo da Tia Joana. Ou não



Quando fiz o inventário das obras de Nilton Bravo espalhadas pela cidade (aqui), coloquei na seção de dúvidas o painel de azulejos localizado no Bar Tia Joana, em Copacabana. Explico.

Antes de mais nada, ressalve-se que o dito bar passou por uma daquelas reformas descaracterizadoras que assolam o botequinário carioca. Tiveram, no entanto, o grande louvor de preservar o painel de azulejos que há muito encantava os bebuns locais, principalmente em época em que tevês não os forçavam a acompanhar Malmö X Beşiktaş e nem tinham eles, os bebuns, celulares que lhes enclausurassem nas invisíveis redomas de vidro.

Pois bem, painel preservado que, segundo um e outro jornalista, é de autoria do Nilton Bravo.

Afirmo que não. Em primeiro lugar, baseio-me na falta de assinatura. O que se lê, e o nilton-bravólogo Ivo Korytowski voltou ao local para isso, é algo como "Dic Rainha Santa Clau Rio Jr.". Ora, Bravo pai e Bravo filho não apenas soíam assinar seus trabalhos, como amiúde deixavam ali o seu telefone, conforme vemos nos exemplos abaixo.

Em segundo lugar, baseio-me no segundo volume do livro Azulejaria Contemporânea no Brasil, de Frederico Morais. Esta é obra de cariz erudito, mas que, em seu capítulo final, trata com alguma condescendência / carinho dos artistas autodidatas. Na página 130 lemos : "No Rio de Janeiro, um dos mais conhecidos muralistas de bar, Nilton Bravo, que herdou do pai o ofício, nunca se interessou em trabalhar sobre azulejo. Uma pena."

Claro que nem um pesquisador do estirpe de Morais teria a pretensão de exaurir o assunto e conhecer todas as obras do Bravo, mas não deixa de ser um argumento a ser levado muito em conta.

Por que, então, o painel é atribuído ao Nilton Bravo? Para este escriba, é simples: é dura a vida de um jornalista. Em que pesem as especializações (jornalista político, jornalista esportivo), o cara tem que dar conta de Deus e o mundo em um texto correto e ágil. O cara viu um painel, guglou "painel em botequins", encontrou o quê? O nosso Miguel Ãngelo. E nem se preocupou se eram azulejos ou se era óleo.




O painel do / da Tia Joana

Friday, December 11, 2015

Dois Limeriques para Dante e Lara


Enfim conheci a Lara, a namorada do Dante. Esses meninos são assim, tempos modernos, começam a namorar antes de comunicar aos pais. Fazem muito bem. 

No pequeno musical, Lara era ninguém menos que Mamãe Noel, enquanto Dante, ajudante na fábrica de brinquedos. Deu no que deu. Tempos modernos, fazem muito bem.

Descubro que Lara adora rimar!

Dois limeriques para eles. O segundo viola abertamente o esquema AABBA. Mas em compensação tem as últimas palavras em ara, era, ira, ora, ura.


Lara e Dante fazem alegre rebu
Igual nem no Leblon ou no Caju
E vejam que coisa chique
Eu fiz este limerique
Pro mais lindo casal do Grajaú.

Pequena grande amiga é a Lara
Tudo acontece quando não se espera
Alegria que ninguém tira
Saber que a primeira nora
Causa no Dante alegria pura 



Monday, December 07, 2015

Sonhei com Borges esta noite



Sonhei com Borges nesta noite. No sonho, assombrosamente nítido, ele já completamente cego, em algum lugar da serra fluminense (Penedo?). Camila também estava no sonho e no sonho já estivera com ele. Ele me mostrando as coisas, uma espécie de comunidade alternativa. Havia crianças e vacas. 

O Borges, doido pela Islândia, na única comunidade finlandesa da América Latina. Certa verossimilhança aqui, pois. Mesmo que hoje restem apenas vagos traços de Finlândia em Penedo, o cego tiraria de letra e logo construiria todo um vasto espaço piranesiano de habitantes de fala difícil.

Conto ao meu pai o sonho, que imediato pergunta que língua falávamos. No que responde de imediato "castelhano", embora eu não tenha menor certeza disso, ele logo emenda ter sido um sonho de qualidade.

"Bem no fundo do sonho estão os sonhos. A cada
noite quero perder-me nas águas obscuras
que me lavam do dia"


De manhã chove muito e no andar de baixo a vizinha toca Satie. Depois que boto o Dante para a escola deito-me no sofá para ler os seus poemas, que eu quisera estivessem em livro de areia.

Saturday, December 05, 2015

Um Museu para Manoel Félix Igrejas ::: A Casa do Minho



Assim como o Bar Arco Teles poderia ser informalmente considerado um verdadeiro museu da obra de Nilton Bravo, pelo fato de posssuir nove paineis do mestre, proclamo hoje que a Casa do Minho, aquela casa portuguesa muito recuada no Cosme Velho poderia, com sobras, ser um Museu Manoel Félix Igrejas, dada a generosa quantidade de suas obras ali.

São sete obras : seis paineis azulejares e uma tela (!). Simplesmente fantástico, inda mais se consideramos que seu trabalho ali se estende por quatro décadas.

Esta que provavelmente é uma das obras mais importantes do Manoel em nossa cidade -- um lindo painel de 140 azulejos com sua típica moldura colocada no restaurante Costa Verde -- é de 1971. Neste mesmo ambiente uma pintura sua a óleo (!) retratando moinhos minhotos, de 1983. Nota-se que a pintura já sofreu cortes. Antes de se chegar ao restaurante, um belo painel dedicado à Nossa Senhora da Conceição do Sameiro, de 2010, onde Manoel, ao retratar os anjos, pode dar voz à sua veia naïf.

Colocado no alto de uma escadaria, só sendo possível a visualização para quem desce, outro grande painel quadrado de 121 azulejos de 2009 em que o pintor português homenageaia sua mulher Margarida, que o ajudava com as tintas.

Subindo um pouco mais, descobrimos um fonte com outro painel do Manoel, desta feita de 2005. Novamente motivos minhotos, a pudica minhota ounvindo os flertes de um Santos Dumont. Em local a que não tive acesso, outro pequeno painel com poema tecendo loas ao Minho. 

E só na saída nos deparamos com outra pequena, notável, obra do Igrejas, de 2012. Na entrada, porém perceptível apenas para quem sai : um Afonso Henriques de espada na mão, incomum em Igrejas por ser no tradicionalíssmo azul e branco português.

Não por acaso Manoel Félix Igrejas foi homenageado com uma sala de cultura.























Ontem saí pra passear no Méier



Ontem saí pra passear no Méier, saltei ali no começo da Dias da Cruz e resolvi voltar um pouquinho. O suficiente para estar no Lins. Como sói acontecer, andei pra cacete e, quando vi, estava sob o Engenhão, isto é, Engenho de Dentro. Andei mais algumas jardas e depois peguei táxi para voltar pro Grajaú, mas desci no meio do caminho. Estava no Engenho Novo.

Então de Méier Méier mesmo, não teve nada. Ou teve, que tem horas que ninguém sabe direito que bairro que é.