sei que isto pode soar empáfia, mas se soar que diferença? : sou aquele que mais compreende o Dante, eu que tantas vezes o incompreendo, a ponto de já ter escrito isto :
(...)
a fadiga dos desencontros sem
que eu entenda o que foi que se perdeu
e eu não menos exilado :: olhos baços
em permanente atrito a dislalia
o nosso estar no mundo :: nossas mãos
outro dia num táxi em que ele se encontrava absurdamente agitado, o taxista nos quis fazer crer, a mim e à babá, e talvez também ao Dante e a ele próprio, que o problema do Dante era ser surdo. eu estressado no banco de trás achei graça e raiva mas o que replicar? deixa ele achar. mas comecei a escrever isto para dizer que se sou aquele que mais compreende o Dante às vezes (o advérbio aqui indica frequência e dúvida) é ele que mais me compreende. parece piegas e possivelmente é. me lembro sempre daquele pai em goiânia que pegou o filho e se espatifou com ele no estacionamento de um shopping (um shopping, para que não houvesse poesia). porque a vontade às vezes é esta, tomá-lo pela mão, tomá-lo pela mão neste mundo soterrado pelo entulho da indiferença e dos clichês e da surdez e