Thursday, March 08, 2012

Caio



Tola a minha estratégia de ler os morangos mofados ao léu, pulando as páginas ao acaso, porque os dois melhores morangos eram mesmo os dois primeiros, descubro em minha leitura matinal no ônibus.

Leio até entrarem duas mulheres que, a falta de lugares, postam-se de pé exatamente ao meu lado e põem-se a tagarelar. Irritante essa história de frescão deixar que passageiros viagem de pé. O 761 não deixa. Mais irritante pessoas acharem que, juntas, têm que falar o tempo todo. O incômodo do silêncio. Estas, para além de falar, roçam as nádegas em meu cotovelo e riem, como que a dizer estamos de pé, enquanto vocês estão sentados, reclinados quase deitados dormindo ouvindo música, mas nem por isso estamos tristes, aliás somos mais felizes que vocês, seus preguiçoso que cochilam e babam, vejam como rimos.

As nádegas roçam em meu cotovelo, as palavras roçam e invadem os morangos, de modo que é impossível continuar. Tenho ganas de pedir digníssimas senhoras, será que poderiam por obséquio fazer-me o imenso favor de calar a porra dessa boca? Não peço, claro, não faria isso depois de quatro doses de Ardbeg, imagina assim a seco, só com Nescafé no estômago.

De modo que desisto.

Fecho o livro, viro para a direita. O sol flamba suave navios e barquinhos na baía. Ao meu lado dorme um anjo de batom, boca levemente entreaberta. Seus seios lembram dois pombos miraculosos. Que voam.

Caio no sono.

1 comment:

Luiza Machado said...

Não precisou continuar lendo o Caio, mas tanto faz, ele já estava fazendo efeito ai dentro.. Sem você nem perceber..
Até que as senhoras serviram para alguma coisa..