Friday, July 29, 2011

A Casa de Policarpo












Antes de se mudar para o sítio Sossego, para onde foi em busca do Brasil da abundância e encontrou saúvas, Policarpo Quaresma morava na Rua São Januário.

Há três referências a ela no romance, e é curioso que em duas delas tem-se a impressão de que a rua é um bairro, pois não se diz "na Rua São Januário", mas "em uma rua de São Januário":


"Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e quarenta, por aí assim,tomava o bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário"

E:

"Uma tarde de sol - sol de março, forte e implacável - aí pelas cercanias das quatro horas, as janelas de uma erma rua de São Januário povoaram-se rápida e repentinamente, de um e de outro lado."

Desconheço o motivo, fica parecendo que São Januário era uma região, mesmo um bairro. Essa impressão desaparece, todavia, quando em dois outros momentos do romance fica claro que nosso Major morava no bairro de São Cristóvão, como em "enclausurado em sua casa de São Cristóvão".

Pois. Ao percorrer a Rua São Januário desde o Largo da Cancela até o estádio, em cumprimento de promessa descrito neste post aqui, deparei-me com três casas que poderiam muito bem ter sido a do nosso desditoso personagem.

Não se faz isso. Não se mistura ficção com realidade, sob o risco do bovarismo mesmo que consumiu Quaresma.
Mas eu faço. Já não descobri as casas da Mata-Cavalos em cujos quintais Bentinho e Capitu jogavam o siso? Já não tomei uma cerveja em Guararavacã do Guaicuí, onde Riobaldo descobriu que o que sentia por Diadorim era amor amor mesmo? Não encontrei assombrado o casarão antebellum dos Compson no condado de Yoknapatawpha?

Thursday, July 28, 2011

Bonsuça Campeão!

































O empate de ontem com o Quissamã somado ao também empate do Friburguense deu ao Bonsucesso o título de campeão estadual da segunda divisão. Mais: garantiu-lhe o retorno à primeira divisão, após 18 anos. Agora é torcer para que em 2012 o rubro-anil da Leopoldina consiga ao menos manter-se na primeira para adentrar 2013, ano de seu centenário, no lugar em que merece: a elite do futebol carioca.




Mas o que estou dizendo? O Bonsuça vai é brigar pelo título, aliás, o Projeto Tóquio já está em andamento!




Estive no jogo de sábado passado, contra o Estácio, vencido de virada no segundo tempo. Quem esperava encontrar melancolia e desolação, errou feio: estavam lá todos os ingredientes típicos de uma partida decisiva: tumulto na entrada, uma torcida apaixonada, bateria, invasão de campo...




Pensar que neste estádio ocorreu o primeiro gol de bicicleta da história do futebol, marcado por Leônidas da Silva, em cuja homenagem, aliás, batizou-se o estádio. E pensar que aqui, há não tanto tempo, teve um Bonsucesso X Vasco oficial, com direito a Romário e Roberto...

Wednesday, July 27, 2011

O Pagador de Promessa - da Pça. da Bandeira a S. Januário a pé

Atire a primeira quem, durante um jogo difícil, nunca pensou no Barbudo e não fez várias e ferventes promessas, prontamente esquecidas assim que o juiz encerra a partida. Comigo sempre foi assim, acho que devo promessas desde o Brasileiro de 97.

Com a conquista da Copa do Brasil deste ano, decido disciplinar-me e cumpri-las. De modo que, das sete ou oito que fiz, já me desincumbi, sempre prazerosamente, de mais da metade.

Ontem cumpri uma emblemática: ir da Praça da Bandeira a São Januário a pé, parando em pé-sujos pelo caminho. Estes já haviam sido escolhidos com antecedência e eram, quase que exclusivamente, vascaínos.

Para companhia, que uma promessa dessas não se cumpre a sós, nada melhor que o André Vascão, companheiro de copo e de jogos e com quem eu estivera pela última vez justamente no dia da decisão contra o Coritiba.

A Praça da Bandeira:



Primeira parada: Café e Bar Almara, na Praça da Bandeira mesmo:




Segunda estação: Bar Tulipa dos Ventos, na Rua Hilário Ribeiro, paralela à Rua Ceará. Fomos muito bem recebidos pelo cearense e vascaíno roxo Francisco que, inclusive, deixou a cerveja por conta da casa (!).






Terceira estação: Bar Amarelão, já em São Cristóvão. Não estava nos planos e acabou sendo o único ponto negativo de nossa odisseia. O dono e uns dois fregueses fitaram-nos desconfiados durante o tempo todo em que lá estivemos, sendo que tudo que fizemos foi tomar cerveja e tirar algumas fotos. Bem, ou são membros de alguma organizada da mulambada ou são foragidos da polícia. O que quase dá no mesmo.




Quarta parada: Quinta de São Cristóvão, um dos templos da vascainidade de nossa cidade, com inúmeras referências ao Vasco, como pôsteres, camisa autografada, desenhoe e escudos. Fomos super bem recebidos. Comemos as impagáveis empadas de camarão da Dona Olímpia e bolinhos de bacalhau.





Quinta estação: Restaurante e Bar Santa Genoveva. Eu já estivera outras vezes aqui este ano, mas esta foi a melhor. Era onde eu planejara almoçar, mas acabamos abortando a ideia. Aceitamos a sugestão do gentil dono: linguiça e bolinhos de bacalhau.






Sexto passo: Bar Alfacinha da Cancela. Não estava nos planos, já que acabamos pegando a Rua São Januário, em vez da Emancipação (onde iríamos no Jôdecama). Duas pinturas relíquias, à la Nílton Bravo. Valeu muito a pena.




Sétimo passo: Bar Lamas Rivera. Outra grata surpresa. Azulejos e fantásticas geladeiras de porta de madeira.


Oitava parada: já em frente à São Januário! Bar da Guerreiros, uma organizada do Vasco.



Destino final, já dentro de São Januário, a merecida saideira.



Thursday, July 21, 2011

Minha Coleção de Michael Nyman



Embora eu seja apaixonado por CDs e os tenha em quantidades proverbiais, não diria que coleciono CDs. Justo eu, que tantas coleções tenho, desde bolachas de cerveja a primeiras edições autografadas, passando por camisas de times de futebol off-mainstream e fotos de portas de livraria.


Não coleciono, portanto, CDs, embora eu tenha algumas coleções específicas deles, como rock progressivo italiano. E, claro, Michael Nyman.


Coleciono Michael Nyman desde 1997. A quantidade que amealhei -- 62 CDs, 3 livros e 2 DVDs -- não deve, pois, causar espécie. Como todo colecionador devotado, tenho histórias sobre cada item e, claro, predileções. Tem o Live de Bruxelas, tem o Prospero's Book chegado pelo correio, enviado pelo Felipe de Brighton, tem o Commissar Vanishes e o Out of Ruins daquela lojinha de Nápoles, situada em endereço inolvidável: Via San Sebastian, 20. E tem óperas e concertos e quartetos de cordas e canções e, claro, as inevitáveis trilhas.


Nos tempos em que o orkut bombava, travei contato com uma argentina que se dizia nymaníaca. Disse-me ela que esteve com o Michael e contou-lhe deste brasileiro e seus tantos CDs, o que teria causado espanto no próprio. Sei não, histórias de orkut.


A coleção, lambida e contemplada cotidianamente, é aberta, meus caros. E não vejam, please, jactâncias e fumos aqui. Citando Drummond: "Orgulho, não; inveja de mim mesmo".

Tuesday, July 19, 2011

WORDS FAIL ME





Words fail me é a expressão perfeita, adoro. É como, dada a incapacidade de enunciação, pela revelação que atira São Paulo cavalo abaixo, não pudéssemos sequer ser sujeitos do reconhecimento desta impossibilidade. Pode-se dizer "I don't have words", mas aí somos sujeitos, enquanto que em "Words fail me" estamos objetificados, vítimas de profundo choque.

Pois words fail me se tento definir esta obra-prima que é o Selling England by the Pound, sexto álbum do Genesis, lançado no seminal 1973. Não haverá 1973 igual àquele.

E eu, tantas vezes pedante, que busco as fitas perdidas da banda eslovena ou uzbeque de 1970, curvo minha dorsal até o chão para venerar O álbum dA banda de rock progressivo. Para piorar, inglesa. O medalhão do medalhão, o cliché do cliché. O Coral da Nona de Beethoven. Não há como dizer não. Não há como dizer nada, words fail me, fica o dito pelo não-dito e este post foi só para dizer nada.

Saturday, July 16, 2011

CORRENDO ATRÁS DO CABRITO (I FESTIVAL)



Já começou o Festival do Cabrito. De hoje ao fim deste ano, I, me & mine estaremos envolvidos na arqui-árdua tarefa de descobrir qual o melhor cabrito desta muy leal cidade. Naturalmente que, a falta de tempo e contos, não podemos provar de todos os cabritos que por aí pululam, de modo que houvemos por vem fazer uma pré-seleção dos candidatos.


São eles:


1) Nova Capela

2) Poleiro do Galeto

3) Sentaí

4) Gracioso

5) Cachambeer

6) Pastoria (popularmente conecido por 28)


O que se vê na foto é o do Pastoria. Começamos bem.

Saturday, July 09, 2011

Concertos para Piano e Orquestra - My Top 10



Listófilo que sou, acordo com ganas de enumerar meus dez concertos para piano e orquestra favoritos. A listinha não tem a pretensão de lembrar os dez "mais importantes" concertos para a história, mas tão somente os dez que mais agradam a este escriba, que pouquíssimo entende de música. Isso talvez explique a omissão de Mozart e Beethoven, se bem que o Imperador quase entrou aqui. Aliás, descobri, horrorizado, que não tenho os concertos do Shostakovich e tampouco conheço o de Grieg. Homework.

A lista, em ordem alfabética:

1) Concerto No. 1 - Bartók (o piano realmente como instrumento de percussão)
2) Concerto in F- Gershwin (até para quem torce o nariz para jazz)
3) Concerto No. 1 - Lizst (ou concerto para triângulo e orquestra?)
4) Concerto No. 1 - Michael Nyman (não podia faltar)
5) Concerto in G - Ravel (tem lirismo na modernidade)
6) Concerto No. 1 - Prokofiev (uma camisa-de-força para este rapaz!)
7) Concerto No. 3 - Prokofiev (o céu se rasga para a maravilhosa aparição)
8) Concerto No. 2 - Rachmaninov (romantismo atemporal)
9) Concerto No.1 - Tchaikovsky (todos conhecem de algum lugar)
10) Concerto No. 2 - Villa-Lobos (sem nacionalismo)

Saturday, July 02, 2011

O Miguel Ângelo dos Botequins

Em seu hilariante Confesso que Bebi - Memórias de um Amnésico Alcoólico, Jaguar inventaria as pinturas de Nilton Bravo, o Miguel Ângelo dos botequins, sobreviventes em nossa cidade, amiúde ingrata com seus artistas e sua própria memória. Cito:


"Que eu saiba, só restaram três murais: na Adega Flor de Coimbra, na Lapa, no Jobi, no Leblon, e no Pirajá, em São Paulo."

Jaguar deixa de fora (desconhecimento ou esquecimento do amnésico alcoólico?) duas importantes do Bar Sulista / Harmonia, na Gamboa, bem como uma rara que descobri em um bar no Maracanã.

Para além destes, existiam dois quadros do mestre no antigo Bar Minerva (hoje um restaurante), tombados em 1986, mas que não existem mais. Foram destruídos durante obras.

Na verdade existiam muito mais obras, perdidas, vandalizadas, destruídas por mãos insensíveis. Há uma em um boteco na Rua São Januário que desconfio ser da ateliê do mestre. A dona do local, braba, não permitiu fotografias. Lá só volto acompanhado. E depois de renovar minha anti-rábica.

A do bar do Maracanã (Bar 105 Pontes, sendo que o nome antigo e vero é Bar Sol) tem uma história tragicômica. Bastante desfigurado, o bar ainda conserva uma parede de azulejos e a pintura do Nilton Bravo. Ao perceber o meu interesse, um dos jovens que lá estava (filho do dono?) contou-me jocosamente que duas outras pinturas semelhantes estariam em sua casa, fazendo as vezes de... mesa de pingue-pongue.

Bar Jobi, em maravilhoso estado. Ao ser restaurada pelo filho de Nilton Bravo, este deixou sua marca, pintando um barquinho ausente no quadro original!:


As duas do Bar Harmonia / Sulista. Que eu saiba, as únicas tombadas pelo Patrimônio:





Na Adega Flor de Coimbra, destaque de suas belíssimas paredes:




As do Bar 105 Pontes, em muy mau estado de conservação e tendo sobre si um banner da Ambev!