Saturday, September 18, 2010

COMPRAR PEANHA



Sabem aquela história, né? Na falta de roupa nova, passei o ferro na velha. Pois. Segue este texto antiguinho, de quando eu buscava peanhas para o meu Shiva.

COMPRAR PEANHA

Não consigo imaginar um deus que não saiba dançar.
Nietzsche

Viver é duro, navegar sempre será preciso, tamindige mondage (nambiquara: fazer amor é bom), mas comprar peanha, comprar peanha não fica muito atrás, não. Primeiro, julgaram-me fanho. Um fanho querendo uma peanha. Se eu tivesse ganho uma peanha, não precisava ter ido atrás de uma, mas imagina: Fanho ganha peanha, em que palatais líquidas umedecem o papel.

Outros pensaram ser piranha o que eu queria. Piranha? – indagavam levemente temerosos da palavra e seus dentes. Não, eu repetia: peanha. Apenas uma senhora, de uma das duas únicas garage sales de nossa cidade, atendeu às minhas súplicas.

– Tenho três – disse naquele tom inequívoco de quem entende do riscado e de peanhas.
Não gostei de nenhuma das três e de lá saí de mãos vazias. Dirão que sou muito exigente quando o assunto é peanha, mas convenhamos que uma peanha não se compra assim a primeira que aparece. Amanhã recomeço. Hoje é voltar para casa, encarar Shiva e confessar-lhe meu fracasso. Esta noite sua dança ainda queimará o universo em minha estante.

2 comments:

Aruanda said...

hahaha! Um fanho é ótimo!

Peanhas peanhas!!!
Depois de uma pesquisada no google descobri o nome daqueles objetos que meu pai fez há muito muito tempo: coloridas peanhas de madeira.

Olha só!

Josimar said...

se fosse uma piranha ñ tinha dado tanto trabalho...