Monday, July 29, 2019

Seamus Heaney na Amazônia



Um erro trazer Seamus Heaney para a Amazônia
Na longa travessia de volta da ilha
tropeçamos em turfas, cardos, azevim, pássaros de nomes esquisitos
Era para ser leitura compenetrada
Pampi estala de rir com a tradução

Sob os guizos
a barca subitamente silencia
pirarucus desfecham saltos doidos
holofotes por detrás das nuvens

Tuesday, July 16, 2019

Rua Sanatório


Manhã de sábado, o amigo de São Paulo visitando e o programa seria a Feira da Praça XV. Seria. Não apenas porque ele já conhecia a feira, mas achei que cabia uma flanada pelo subúrbio, ele que também é esquisito, também gosta de coisas esquisitas e de fotografia.

Escolhi o Café e Bar São José da Pedra, na Rua Sanatório, disputada por Cascadura e Madureira.

Disputa justa. Eu a disputara aqui para o Grajaú também

afinal, quanto estilo Missões e azulejos e singelezas





















Sunday, July 14, 2019

Felipe Stefani desenha as paredes


Miúdo, Felipinho rabiscava as paredes de casa e levava broncas da mãe, afinal a pintura era nova e a cunhada Carmela nem tinha visitado ainda. Mais crescidinho, passou dos rabiscos aos desenhos, mas as broncas de Sandra Lagua, também artista plástica, continuavam, afinal, enfim.

Felipe Stefani hoje rabisca muito, faz capas de livros (fez a do Thiago Ponce), cartazes de filmes, ilustra livros (o do Daniel Gil), então perguntei Você não desenha aqui qualquer coisa na parede do corredor? Ele topou e rabiscou o Aqualung, aquele mendigo intenso. De quebra, fez o Glad Day, do Blake, trabalhos longe de serem meras reproduções, antes releituras do Felipe e seus traços destraços e rolos.

Tive o privilégio de acompanhar e documentar tudo. O olhar e os dentes do Aqualung são qualquer coisa de mestre. E ainda me lembraram algum profeta do Aleijadinho. Talvez seja mesmo.

E ah se Sandra sabe disso. 








Wednesday, July 10, 2019

O nome dado ao poema



Aubade, nome dado ao poema
de despedida dos amantes quando vem a
aurora e seus dedos rosas
Shakespeare rocorreu à cotovia
Larkin escreveu o pavor da morte
Soft Machine fez música leve e linda

todos ingleses ingleses entranhas inglesas

desconheço se há nome em português
eu queria fosse teus lábios em minha nuca





Marajó, Dalcídio Jurandir



Marajó (1947) é o segundo romance de Dalcídio Jurandir, então pela prestigiada José Olympio, que no entanto não tornaria a publicá-lo. Tenho a primeira edição autografada, um tesouro, mas a edição mesmo é recheada de erros.

O romance é recheado de acertos, embora não seja ainda o Dalcídio mais experimental, mais faulkneriano que teríamos vinte anos depois em Primeira Manhã. Mesmo para um regionalismo social de um Graciliano, tem uma carga excessiva de cor local.

A ação da narrativa se dá em Ponta de Pedras, cidade natal do autor que viria a morar em Cachoeira, Cachoeira do Arari, já devidamente imortalizada em Chove nos Campos de Cachoeira.

Chove nos Campos de Cachoeira, que nome mais lindo

Missunga sentiu a voz de Alaíde como se ela falasse do meio do rio, numa embarcação ao sabor da vazante. Aos poucos, algumas cenas de vaqueiragens, as escrituras do pai, Marta acuada no muro do cemitério, as donzelas que seu pai deixava , nos campos e nas beiradas, caídas e abertas como os peixes de Alaíde, despertaram-no confusamente. E deu com o olhar de Alaíde, tão parado, que não entendeu o que havia nele, de triste, um olhar que não se repetiria mais e que logo mudou, como surpreendido ou culpado. 



Monday, July 08, 2019

A Livraria, Fahrenheit 451



Um dos passatempos dos aficionados do filme Fahrenheit 451 consistia em listar os livros que, de uma maneira ou outra, inteiros ou em chamas, apareciam na tela. Era divertido e não será impossível que tenham realizado algum congresso.

O que torna interessante que, em outro filme recente sobre livros, o inglês The Bookshop (2017), o primeiro livro vendido por Florence Green seja justamente o sempre atual romance de Ray Bradbury, junto aos poemas de Philip Larkin. Seu cliente, um velho isolado e até então casmurro, torna-se fã do autor e daí segue o Martian Chronicles e, quase, Dandelion Wine.

Não é por acaso, claro.

E Dandelion Wine, que nome mais lindo para um livro.