A ARTE DA LEVITAÇÃO
Como se fosses meu pai,
e não meu filho.
Alberto da Costa e Silva.
Dante,
o dia me traz suas fadigas:
o desdém do aluno
a arrogância do médico
a música estridente que me persegue no ônibus.
Mas a ti retorno.
Existe o quarto, existe
o berço
existe a noite que atravessamos juntos.
São nossos os viventes da madrugada:
as rodas a deslizar no asfalto molhado
o pássaro misterioso a chamar solitário
o bêbado que passa mastigando a noite
querendo copular com Deus.
Por fim o galo que bica insistente a casca da manhã.
Dante, perdoa-me
os momentos de tristeza.
Te peço
como se pai
e não filho
fosses.
E assim é.
Continua a ensinar-me
tua didática de gestos frágeis
e firmes.
E eu que era pesado
que temia o tempo e suas urtigas
com um teu fio de cabelo
ato meu pé a esta cadeira
antes que pela noite saia levitando
como os apaixonados de Chagall.