Notável já por muitos aspectos, a começar pela localização -- central, porém de costas para a sua praça principal -- a Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Ouro Preto é a única da cidade, a única de toda Minas colonial, com azulejos portugueses, aqui em painéis nas partes inferiores das paredes da capela-mor, com temas caros à Ordem.
A quase total ausência de azulejos no barroco mineiro é amiúde explicada pela dificuldade do transporte e, consequentemente, pelo custo elevado. Naturalmente que não se trata de levar umas ou duas peças, que isso até colocariam na algibeira. Sal também era difícil de transportar, e quando chovia era uma desgraça, cousa que ao menos não aconteceria com os queridos azulejos, mas só mesmo uma irmandade muito rica como a dos irmãos terceiros do Carmo para tal. Se a intenção era a de causar dor de cabeça aos franciscanos, devem ter conseguido, se bem que a igreja destes, obra-prima do Aleijadinho, deve ter rendido também carradas desse pecado mortal gorduroso a que chamamos inveja.
Em 'Carmo', primeiro poema da série "Estampas de Vila Rica", com três estrofes com versos que oscilam entre hexassílabos e de redondilha menor, Drummond não deixa de lembrar esta peculariedade da igreja :
Quer nos azulejos
ou no ouro da talha,
olha: o que está vivo
são mortos do Carmo
ou no ouro da talha,
olha: o que está vivo
são mortos do Carmo
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