Há exatos dois dias antes de eu nascer, Vinícius de Moraes, contumaz frequentador do Pouso do Chico Rei, onde amiúde esbarrava com a tímida Elizabeth Bishop para longos serões de whisky -- pois, retomo, que a frase vai ficando barroca demais, há exatos dois dias antes de eu nascer, Vinícius escreveu a "Poesia do Pouso", assim:
Amiga, dizer nem ouso
De certa coisa que sei
Desde então acho-me em gozo
Das coisas que sempre amei
Lá dentro tudo é formoso
Toda a madeira é de lei
Lá dentro encontrei repouso
Lá dentro me reencontrei
Amiga, só quero pouso
No Pouso do Chico-Rey!
Let Shakespeare and Milton
stay at a HiltonToda a madeira é de lei
Lá dentro encontrei repouso
Lá dentro me reencontrei
Amiga, só quero pouso
No Pouso do Chico-Rey!
dedicada com 'carinho total' à Lili, proprietária dinamarquesa do hotel e, ao que parece, amiga de todos.
Pois bem, a Bishop, que sempre levou esse negócio de poesia MUITO a sério, a ponto de terminar a vida com apenas 101 poemas publicados, não era, não causa espécie, chegada a isso que se chama versos de circunstância.
Mas talvez tenha sido o whisky, talvez a vista da Mercês de Cima e da São Francisco de Paula pelos caixilhos das janelas em forma de coração, talvez o Vinícius, talvez a influência do Bandeira e seu Mafuá do Malungo, provavelmente isso tudo, fato é que também Elizabeth Bishop fez quadrinha para o Pouso do Chico Rei. Assim:
Let Shakespeare and Milton
I shall stay
at Chico Rei.
Bem, tendo eu estado por lá, e justo no quarto onde Bishop ficava (e que hoje leva o seu nome), não posso deixar de rabiscar os meus.
Mais ou menos assim:
Guignard, Vinícius, Neruda
Scliar, Bishop, Burle Max
todos sabichões sabiam
o que só agora eu sei:
Pouso em Ouro Preto, dear
só mesmo no Chico Rei.
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