Tuesday, May 16, 2017

Crônicas Ouro-Pretanas IV :: O Pouso do Chico Rei / O Quarto da Bishop



Há exatos dois dias antes de eu nascer, Vinícius de Moraes, contumaz frequentador do Pouso do Chico Rei, onde amiúde esbarrava com a tímida Elizabeth Bishop para longos serões de whisky -- pois, retomo, que a frase vai ficando barroca demais, há exatos dois dias antes de eu nascer, Vinícius escreveu a "Poesia do Pouso", assim:


Amiga, dizer nem ouso
De certa coisa que sei
Desde então acho-me em gozo
Das coisas que sempre amei


Lá dentro tudo é formoso
Toda a madeira é de lei
Lá dentro encontrei repouso
Lá dentro me reencontrei

Amiga, só quero pouso
No Pouso do Chico-Rey!

dedicada com 'carinho total' à Lili, proprietária dinamarquesa do hotel e, ao que parece, amiga de todos.

Pois bem, a Bishop, que sempre levou esse negócio de poesia MUITO a sério, a ponto de terminar a vida com apenas 101 poemas publicados, não era, não causa espécie, chegada a isso que se chama versos de circunstância.

Mas talvez tenha sido o whisky, talvez a vista da Mercês de Cima e da São Francisco de Paula pelos caixilhos das janelas em forma de coração, talvez o Vinícius, talvez a influência do Bandeira e seu Mafuá do Malungo, provavelmente isso tudo, fato é que também Elizabeth Bishop fez quadrinha para o Pouso do Chico Rei. Assim:

Let Shakespeare and Milton
stay at a Hilton
I shall stay
at Chico Rei.

Bem, tendo eu estado por lá, e justo no quarto onde Bishop ficava (e que hoje leva o seu nome), não posso deixar de rabiscar os meus. 

Mais ou menos assim:


Guignard, Vinícius, Neruda
Scliar, Bishop, Burle Max
todos sabichões sabiam
o que só agora eu sei:
Pouso em Ouro Preto, dear
só mesmo no Chico Rei.











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