Este acima é o Raul Córdula, notável artista plástico paraibano residente em Olinda, 78 anos. Tive a honra de estar com ele por duas vezes, na segunda praticamente só conversamos sobre o Paêbirú, esta obra-prima da psicodelia brasileira lançada em 1975. Não fosse o Raul, neca de Paêbirú, de vez que foi ele quem apresentou a Pedra do Ingá a Lula Côrtes e Zé Ramalho. E escreveu ainda as letras da primeira música, "Trilha de Sumé".
Meu primeiro encontro com Raul foi em novembro de 2019, em sua casa. Tomamos delicioso lanche cheio de pernambucanidades: ele, sua companheira de lutas e artes Amélia Couto, seu sobrinho que intermediou o contato, Bao, e eu. O segundo foi quase dois anos depois, há pouco mais de um mês: ambos, ele e companheira, alquebrados. Raul confessou-me deprimido por causa deste desgoverno. E não era só força de expressão.
Este aí de cima é meu pai, que continua o mesmo leitor voraz de sempre. Este ano, aos 86, descobre Tolstói. Paixão fiel e adolescente, pela intensidade. Em nove meses, leu uns 20 livros dele e sobre ele, incluindo obras mediúnicas.
Quando fomos pra sala comer as empadas de camarão do Caranguejo que sempre lhe levo, revelou que já nem lê jornais, para não esbarrar com fotos da familícia, que lhe dão engulhos. E me disse (*suspiro) que já não se importa em "desembarcar", gíria maruja que usa para "morrer", já que o estado de coisas no Brasil hoje lhe faz muito mal.
Então se você votou 16 + 1 e continua defendendo, saiba que você é responsável por isso.
E nesses se incluem o Bao, o sobrinho graças a quem conheci o Raul e meu amigo de 30 anos anos, hoje ferrenho negacionista, e que não merece os tios que tem. Quanto a meu pai, responsáveis pelo seu desgosto incluem-se pessoas muito, muito próximas que, de tão cegas, não enxergam os efeitos de sua ignorância, alienação e egoísmo sobre aquele a quem dizem amar.