Ontem celebrou-se em Portugal, pela primeira vez, o Dia Nacional do Azulejo. A ideia é interessantíssima, principalmente, claro, se acompanhada de ações. Assim quisera vê-la transportada para cá.
Como forma de comemorar, lembro o pequeno lindo Livro de Linhagem do poeta Alberto da Costa e Silva, lançado em 1966 em Lisboa. Não é apenas a ilustração da capa um azulejo português do século XVIII, mas também o seu formato e não apenas as dimensões como também a espessura (e já ia dizendo, textura e cheiro).
Uma pequena joia , dividida em cinco partes e muito bem finalizada pelos 'Sonetos Rurais', que Alberto é grande sonetista, talvez meu preferido junto ao dois Carlos, o Nejar e o Drummond.
Ordenha, ferra, encerro: o humilde cerco
dos seres e das cousas vou fazendo,
e a riqueza do mundo, a fauna, os ventos
na minha curta pele vou cosendo,
ilhéu neste morrer, jamais morrendo
nos momentos que colho e que rejeito,
centauro desta carne e de outra, ausente,
que o verdor do passado vai vivendo.
O esperar para o amor, roçando a morte
em lençóis, massapês, tucuns de redes,
volta, agora, lunar, eternamente.
O instante que de amar o que deixava
partir fez mais amor, fiel, consente
em ser soma de tudo, amor sem gente.
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