Sunday, May 07, 2017

Crônicas Sergipanas VI : A Queijadinha de São Cristóvão



Voltei a Sergipe e às suas cidades históricas (duas das suas, que há outras) Laranjeiras e São Cristóvão, passada a bagatela de 22 anos. Me lembro de pouco, mas o que lembro é suficiente, como minha busca pelas queijadinhas de São Cristóvão. 

Em tempos pré-internet, indicaram-me a casa de Dona Marieta: 'ali, vai lá'. Fui. Ao chegar, vi pela janela uma senhora que dormia estendida no chão da sala. Parecia um sono de muitos anos, desses que não se pode incomodar. Que fazer? Eu só tinha aquela tarde para São Cristóvão. Embora eu não estivesse em nenhum tour, o tempo sempre é curto e são muitos os lugares e os livros e os pedacinhos recônditos do corpo para se conhecer.

A velha lá, deitada.

Passados muitos instantes de hesitação em contemplação na janela, bati palmas tímidas e sussurrei um 'Ó de casa'. A velha deitada pôs-se de pé num segundo e, de olhos e sorriso bem abertos, perguntou 'É queijadinha?".

Era, Dona Marieta. Era e é.

Agora a casa modernou-se um pedaço, virou loja, já não se dorme na sala à vista dos clientes. A queijadinha, que de queijo tem nada, continua o mesmo pequeno milagre. Parece cousa seca : é o doce mais molhadinho do mundo. Eu tenho é pena daqueles cheesecakes da terra do Trump.


No comments: