No poema que acabei de escrever e postar (aqui), na verdade uma glosa à Bishop, cito dois episódios que me marcaram nesta viagem a Ouro Preto: o encontro acidental com Seu Iraci Martins, que tem alambique em tapera em Amarantina, e os sinos ouvidos na noite de sábado na varanda do quarto.
Amo sinos. Se mesmo quando os toques são mecanizados, como os da Perpétuo Socorro do Grajaú, que dizer quando se ouve entre badaladas o ranger das cordas. Em Ouro Preto, malgrado tantos malgrados, inda há sineiros mantendo viva esta linguagem, patrimônio imaterial tombado pelo IPHAN, tão ameaçada quanto as línguas indígenas. Aliás, esclareça-se: tanto os toques dos sinos quanto o ofício de sineiro em Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas, Diamantina, Serro, Sabará, Tiradentes e São João del-Rei são tombados desde 2009.
Ouvir os sinos da Mercês de Cima no começo da noite de sábado, portanto, não foi exagero poético. Ouvi-los tocar improváveis baiões foi susto de que ainda não me recuperei.
O vídeo escuro é meu, não se vê nada, se ouve um pouco.
O outro é do Youtube.
Esses sineiros são já, junto ao Moon, ao Bonham e ao Liebzeit, meus percussionistas favoritos.
PS: Pesquisando, encontrei gente zangada com quem postara vídeo no Youtube chamando os toques de samba. Segundo os zangados, os toques seriam "tudo menos samba", pois se utilizam de um instrumento sacro, com linguagem própria e tradição. Concordo quanto à linguagem própria e tradição. Por isso acho não há desrespeito algum em ver / ouvir samba ou baião aqui. Que não ficam atrás se o papo é linguagem e tradição. E sacralidade.
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