Antes de passar Mary & Max para meus alunos, advirto 'Não desanimem com o começo, é muita informação, depois as peças vão se juntando'. De fato, há tantos detalhes, tanta riqueza ali e por todo o filme, que reassistir é sempre descobrir e redescobrir, como molhar a mão no rio que nunca é o mesmo.
Mas o final a gente guarda desde a primeira vez e nunca mais esquece. Mary, jovem adulta jovem mãe, formada em Psicologia, enfim viaja da Austrália para Nova York para conhecer pessoalmente o seu amigo Max. Max, o esquisitão, Max, o autista, Max, o Asperger, o Aspie, mas sobretudo o Max que, em meio a suas confusões, rejeitava uma "cura".
Sábio Max.
Quando ela chega em seu apartamento, ele está morto, morrera naquela manhã. E há da parte dela menos tristeza que aceitação, aceitação de que eles tiveram, sim, uma linda amizade. You're my best friend. You're my only friend. E eu já ia escrever 'quem não chora nesta cena já está morto', quando lembrei que nem o Max choraria, já que não conseguia ter lágrimas, a não ser quando cortava cebolas. Mas essas não contavam.
(Bem, Mary enviou algumas lágrimas para ele, mas já quase conto o filme todo) e esta postagem é só pra dizer
que Pampi, antes de viajar para Londres, deixou-me uma carta embaixo do travesseiro e agora tenho que dar mais spoilers: quando Mary se senta no sofá com Max, ele já morto, ela vê a parede forrada com as cartas que ela lhe escrevera ao longo dos anos, todas rigorosamente passadas a ferro. Então esse final a gente guarda e desde a primeira vez. E chora, lágrimas de cebola ou não.
Aí eu também passei a cartinha e a emoldurei. Cartinha que, debalde meus esforços, continuou amarrotada. E pensar que Max se achava clumsy. Todo pai de autista é meio autista também.
Pendurei-a perto da cama, na primeira parede que olho ao acordar, para que seja sempre a primeira visão do dia.
Mas eu a vejo mesmo no escuro. E antes mesmo de acordar.
Pendurei-a perto da cama, na primeira parede que olho ao acordar, para que seja sempre a primeira visão do dia.
Mas eu a vejo mesmo no escuro. E antes mesmo de acordar.