Tuesday, November 26, 2019

Mary & Max & Pampi


Antes de passar Mary & Max para meus alunos, advirto 'Não desanimem com o começo, é muita informação, depois as peças vão se juntando'. De fato, há tantos detalhes, tanta riqueza ali e por todo o filme, que reassistir é sempre descobrir e redescobrir, como molhar a mão no rio que nunca é o mesmo.

Mas o final a gente guarda desde a primeira vez e nunca mais esquece. Mary, jovem adulta jovem mãe, formada em Psicologia, enfim viaja da Austrália para Nova York para conhecer pessoalmente o seu amigo Max. Max, o esquisitão, Max, o autista, Max, o Asperger, o Aspie, mas sobretudo o Max que, em meio a suas confusões, rejeitava uma "cura".

Sábio Max.

Quando ela chega em seu apartamento, ele está morto, morrera naquela manhã. E há da parte dela menos tristeza que aceitação, aceitação de que eles tiveram, sim, uma linda amizade. You're my best friend. You're my only friend. E eu já ia escrever 'quem não chora nesta cena já está morto', quando lembrei que nem o Max choraria, já que não conseguia ter lágrimas, a não ser quando cortava cebolas. Mas essas não contavam.

(Bem, Mary enviou algumas lágrimas para ele, mas já quase conto o filme todo) e esta postagem é só pra dizer 

que Pampi, antes de viajar para Londres, deixou-me uma carta embaixo do travesseiro e agora tenho que dar mais spoilers: quando Mary se senta no sofá com Max, ele já morto, ela vê a parede forrada com as cartas que ela lhe escrevera ao longo dos anos, todas rigorosamente passadas a ferro. Então esse final a gente guarda e desde a primeira vez. E chora, lágrimas de cebola ou não.

Aí eu também passei a cartinha e a emoldurei. Cartinha que, debalde meus esforços, continuou amarrotada. E pensar que Max se achava clumsy. Todo pai de autista é meio autista também.

Pendurei-a perto da cama, na primeira parede que olho ao acordar, para que seja sempre a primeira visão do dia.

Mas eu a vejo mesmo no escuro. E antes mesmo de acordar.


Tuesday, November 12, 2019

A Lara faz aniversário e quem ganha o presente



No melhor estilo Casas Pernambucanas (era Casas Pernambucanas? Mesbla? Leader Magazine?) aquela história de que fazem aniversário mas quem ganha o presente é você, hoje é aniversário da Lara, ex-aluna que me aguentou por quatro anos (quase igualou o recorde, ver aqui) e que, a despeito do nome, da doçura, da sensibilidade e da inteligência, não é a namorada do Dante, de quem também já falei por aqui.

Lara havia ilustrado um meu limerique, tão bonito que colei na porta do quarto do Dante. Para a mudança, os cuidados não foram suficientes e o trabalho praticamente se perdeu. Quando soube, Lara ficou muito muito quieta. E anteontem me mostrou isto o que se vê acima.

Esta história lembra demais a história do grafite do Ment e vemos como é bom mudar.

Fiz um limerique pra Lara de presente. Ao contrário dos usuais, com deca e redondilha maior:

E parabéns pra minha amiga Lara
Toca violão, desenha, é joia rara
Se tudo mais ficar mal
O jeito é nadar no Aral
Viver o inverso deste mundo, Lara

Monday, November 04, 2019

Vasco, WITZEL ASSASSINO, penetra e outros que tais

Com Cléber, da Esquerda Vascaína

Fui a apenas dois jogos do Vasco no Brasileirão deste ano, dois jogos que serão certamente lembrados mais pelas circunstâncias que os envolveram que pelo futebol apresentado pelo time: 0X2 pro Bahia em São Januário e o empate sem gols contra o Fluminense no Maracanã.

O primeiro jogo tinha tudo pra ser maravilhoso: manhã de sábado (adoro esse horário), convidei minha cunhada baiana que então nos visitava para uma experiência diferente no Rio de Janeiro. Afinal, não é todo dia que se pode conhecer um estádio lindo, patrimônio histórico, construído com o suor de portugas, negros e pobres e ainda mais em um jogo contra time baiano.

Deu tudo errado.

Pra começar, não pudemos nos sentar juntos, embora eu tivesse tido o cuidado de comprar o ingresso com antecedência. Ficaríamos diametralmente opostos. Pra piorar, não pudemos entrar com nosso adesivos WITZEL ASSASSINO no estádio. Não bastasse, o Vasco jogou pedra, o Bahia passeou e com justiça venceu por 2 a zero.

Ontem era Fluminense X Vasco e a diretoria do tricolor, em atitude típica de adolescentes e não de dirigentes, confinou o Vasco ao lugar de visitante! Com uma carga de 5%! Como botaram apenas 30 mil ingressos à venda, eram apenas 1.500 para o Vasco. Que logo se esgotaram, claro. O Vasco está longe de uma participação brilhante, mas bota, mole, 10 mil numa noite em São Januário. Mas o Fluminense, em atitude mesquinha, revidando atitudes igualmente mesquinhas dos dirigentes vascaínos, cedeu-nos apenas 1.500 ingressos. Que logo se esgotaram.

Então pensei em ficar num bar próximo ao Maraca para assistir junto a outros vascaínos mas, na hora -- paixão é paixão --, pensei: Vou entrar nessa porra. O problema: não tinha ingresso e vestia uma camisa do Vasco. Consegui comprar na hora, na torcida do Flu, claro, mas ainda tinha que me livrar da camisa, que deixei num boteco perto da São Francisco Xavier. Mas também não podia entrar sem camisa! Então comprei a camisa de um catador de lata e lá fui.

Por óbvio que minha camisa preta revelava meu segredo. E claro que mesmo se não fosse a camisa, estava escrito no meu rosto. Como não houve gols, voltei vivo.






Friday, November 01, 2019

Minha coleção de CDs (enfim) reorganizada





Pode até parecer ostentação, mas quem hoje iria se ostentar com coleção desse objeto obsoleto, o CD?

Descartada, pois, essa hipótese, é isto: reorganizo minha coleção de CDs passados oito anos de abandono e destruição. E o faço em homenagem à minha mãe. E se as coisas parecem obscuras ou dramáticas, explico:

Dante, meu filho amado, tem autismo. Nos seus dificílimos primeiros anos, ele cismou porque cismou com minha enorme e cuidada coleção de CDs, tendo algum prazer e grande obsessão em tirá-los do lugar, arremessá-los no chão, jogá-los pela janela, quebrá-los. Mas isso era ainda algo menor, comparado a outros comportamentos e estereotipias como bater a cabeça no chão, morder-se, agredir-nos. Com a distância, parece fácil pensar hoje que bastava tirar os CDs de seu alcance, escondê-los enquanto ele estivesse dormindo (o que fazia pouquíssimo) para preservar a coleção. Sim. Mas quando se está no olho do furacão, exausto estressado frustrado, não se tem clareza nenhuma.

Quando a mãe do Dante saiu de casa e eu fiquei absolutamente só, minha mãe vinha do Rio (morávamos em Niterói) para ajudar alguns finais de semana. Num sábado de destruição, ela reagiu "Não deixa não, Evandro, é a sua coleção, são seus CDs".

Guardei aquilo.

Juntei os cacos. Faltou-me energia para organizar a coleção na primeira mudança. Nesta agora, enrolei as mangas, chamei marceneiro e aí está. Ainda abro um CD do Banco e encontro um Andrew Bird, às vezes não encontro nada. Reavalio também minha relação com a coleção: num exercício raro de desapego, boto itens à venda ou doo. 

Eu havia prometido que só voltaria a comprar depois que organizasse a coleção. Pois, no show do Arcpélago, durante o ótimo Carioca Prog Festival, compro, criança, o Caravela Escarlate e o Kaizen.

E a Dona Maria de Lourdes, sentada em sua nuvenzinha, a tudo assiste feliz: à coleção que retoma forma, ao menino mais lindo que cresce feliz, amado.

Obrigado.