Do pai não herdei apenas o hábito (palavra fraca aqui) da leitura, mas o de fazê-la sempre com lápis na mão, sublinhando passagens, fazendo comentários ao lado. Não marcar daria aquela impressão de deixar algo precioso para trás. Digo isto porque outro dia, em sala, fazendo trabalho com livros de fotografia, uma aluna querida ralhou comigo ao perceber diversos trechos marcados no Histórias de um Fotógrafo Viajante, do Araquém Alcântara. Depois de defender-me de que comprara o livro assim, defendi-me argumentando que sempre marquei mesmo, meu pai e eu, e sentar ou deitar para ler estará incompleto sem lápis à mão. Mas lápis apenas! Caneta e marcador constituem crime de lesa-bibliofilia, cujo simples imaginar equivalem ao atrito que tampinha de garrafa faz em chão áspero.
Na adolescência li e reli Budismo e o Caminho da Vida, do Christmas Humphreys, livro que também o pai já lera e relera algumas vezes. Já não tínhamos mais onde sublinhar. Quase o mesmo acontece agora na leitura de O Demônio do Meio-Dia. Adoro saber que trechos lhe impressionaram e tento fazer minhas marcações sem que se confundam às dele. Mas às vez acho isso bobagem.
'Contágio do desespero', como não destacar? |