Thursday, December 19, 2019

11 anos


Para o aniversário de 11 anos do Dante, pensei em postagem com o título 'O que fiz para merecer um filho autista?", deliberadamente ambíguo (será?, melhor dizer 'insidioso'), já que à primeira mirada levaria a crer que eu estava em plena autocomiseração (hoje em dia horrendamente chamada de mimimi) e no texto eu diria o contrário: o que fiz para merecer um filho tão lindo e sobretudo amorável e amoroso.

Recorri ao eterno Solomon (aqui), iria recorrer ao Luiz Fernando Viana (aqui), quando cai alguma ficha: por que tudo que falo sobre o Dante haverá de necessariamente ser na clave do autismo? Eu, que defendo chamá-lo de criança 'com autismo' e em vez de 'autista'?

Então deleta.

O que fiz para merecer o Dante? O menino que lá pelas 5 e pouco da manhã vem até a minha cama deitar comigo? E deitar abraçado. O que fiz para merecer esse garoto que, quando em casa, sempre que me vê bate no espaço vazio ao seu lado pedindo 'Senta aqui'. O que fiz para merecer alguém que eu ame desse jeito, de cigarras e cafunés?

Nunca me senti tão amado. E, sem cair no 'lindo menino alçado do sofrimento, como se tivesse sido uma geada passageira de inverno e, graças ao esforço heroico do pai, saltita entre as violetas de um prado primaveril, totalmente verbal, radiante com o fresquíssimo êxtase de seu charme espontâneo' (Solomon), esta é das poucas certezas felizes que carrego

Dante Dante

11 anos, parabéns!






Dois videozinhos de ontem: no primeiro pede iogurte, no segundo é sk8 na chuva e sob latidos!

Wednesday, December 18, 2019

Bodas de Lã

Puebla


Num dia estrelado 
Cantado em Nheengatu 
Supercordas

antes mesmo da aurora e seus dedos
rosas antes que Mintaka, Almilam
e Alnitak tenham seu brilho apa-
-gado sabiás sussurram seus segredos
ainda protegidos pela capa
grossa e escura da noite e se amanhã
celebramos sete anos que o pastor
Jacó serviu com seu rebanho : a lã
do sono a segredamos em novelo
que hoje ninguém dorme hoje a madrugada
é pasto de sabiás e euforia
deita a cabeça em meu peito nu
levantemos com os galos para o dia
estrelado e cantado em nheengatu

Friday, December 06, 2019

Saiba o senhor, o de-Janeiro é de águas claras



Tudo o que eu tinha a dizer sobre minha visita ao Rio de-Janeiro já disse aqui. Mas faltaram as fotos, que a postagem foi mais centrada na existência da casa e de seus habitantes, o que dá no mesmo, também eles casa.

Passaram-se seis meses, tanto recordo

É um dos lugares mais importantes do Brasil e todo o tempo as canoas ficam esperando. Como aquela, exatamente como aquela em que Riobaldo e Diadorim se viram meninos

Um sentimento inexplicável

Atravessa!





 

Monday, December 02, 2019

Paisagens Humanas ::: Catas Altas, Brumal, Cocais


Porque se for pra viajar e não conversar com os moradores, o melhor é nem sair de casa. Do Munduca e sua neta Yasmin já falei aqui. E teve a Hilda, tecelã de Brumal que me abriu as portas da igreja dos sonhos, teve o Pedro todo pimpão com seu carrinho de rolimã (carrinho de rolimã pra mim é [ou era] sexta-feira no Grajaú, como escrevi neste soneto aqui), teve o menino que me dava provas de vinho de jabuticaba numa garagem atrás da Matriz, teve o vascaíno mais doente que já conheci, teve a galera que assistiu à missa em pé, teve a Dona Maria, de Cocais, que vive só com sua irmã. E a ameaça do rompimento da barragem.














As Chinesices de Catas Altas



Tinha me esquecido, tinha me esquecido tão completamente que a Matriz de Catas Altas tinha chinesices, assim como a Sé de Mariana e, a grande referência, a Nossa Senhora do Ó de Sabará. Tão completamente que reencontrá-las, numa improvável visita feita sob chuva às 11 da noite, já pagou toda a viagem. 

"Só o Caraça paga toda a viagem a Minas", teria dito Dom Pedro II, a quem rasuro "Só as chinesices da Matriz de Nossa Senhora da Conceição pagam toda a viagem a Catas Altas".

Ainda impactado, descubro que no pequeno distrito de Cocais, a não ser confundido com Barão de Cocais, a sede do município, também as há, na igreja de Santana. Quando lá chego, os operários que levam a cabo a restauração estavam fechando-a, consigo entrar com alguma insistência mas, no escuro (quase caio numa sepultura), não tenho certeza de ter encontrado as pinturas douradas sobre o fundo vermelho com motivos orientais...









Cocais. Chinesices?

Sunday, December 01, 2019

(Em Catas Altas) Aprendi palavras novas



Estive em Catas Altas há 25 anos, pedaço de manhã, suficiente para subir à torre desta que é uma das igrejas setecentistas mineiras mais bonitas, graças à ajuda de um pequeno catas-altense, que se dizia 'nervoso' e tomava remédios.

Eu dava um braço para ter fotos desse menino, hoje um homem na casa dos trinta, para fazer o que fiz em Lobo Leite ano passado (aqui). Isso se ele sobreviveu ao nervoso, espero que sim.

Mas conheci outra 'nervosa', linda, divertida e casmurra ao mesmo tempo, quando precisei de condução para visitar o bicame (a palavra que aprendi). 

Munduca levou-me ao bicame com sua neta Yasmin, 25 anos, que matou a aula de música para fazer o passeio. Yasmin tem epilepsia, controlada com sete medicações diárias. Ela disse preferir passear com o avô a ficar o dia inteiro dormindo. Conversamos um bocado, perguntei se ela gostaria de ver o mar, respondeu que não gostava, perguntei como ela não gostava se nunca tinha visto, ela respondeu que gostava só nas fotos.

Ela perguntou de volta por que eu não morava ali, ou em Cocais, aonde fora pela primeira vez. Isso entre um gole e outro de água, que os remédios, diz ela, dão sono e sede

Respondi que, sim, gostava muito de morar ali em Cocais, faltavam apenas uns balanços pro Dante