Em uma cidade pródiga na destruição de seu patrimônio, amiúde levada a cabo por aqueles que por ele deveriam zelar, creio que ocupa lugar de destaque a destruição da Igreja de São Pedro dos Clérigos, em 1943, para a abertura da Presidente Vargas. (Bem, refiro-me aqui ao patrimônio construído; fosse levar em conta o natural e o humano, a devastação da Mata Atlântica e o extermínio das populações locais fazem o desmanche do Morro do Castelo e a destruição do Palácio Monroe parecerem brincadeira de dente-de-leite.)
O templo era um bem tombado, aliás, dos primeiros a serem tombados no país, com a fundação do Patrimônio em 1937, mas eram anos de Estado Novo.
Para além das talhas do Mestre Valentim, a igreja de 1733 era notável por sua planta elíptica, hoje só encontrada na maravilhosa Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Ouro Preto. O templo era um bem tombado, mas eram anos de ditadura. Apesar da defesa apaixonada de Rodrigo Melo Franco de Andrade, apesar mesmo de um projeto que pretendia transplantar a igreja, em sua inteireza, para outro sítio, foi posta abaixo com mais outras três (ou quatro?) e hoje é apenas uma fotografia no Google.
Para "substituí-la", construiu-se a Igreja de São Pedro Príncipe dos Apóstolos no Rio Comprido. Não tem culpa de nada ela, e é mesmo muito bonita em meio ao céu azul de junho. E a imagem do orago no altar-mor, bem como outra de mármore logo à entrada do lado direito, a porta talhada e seu umbral -- tudo isso pertencia à velha construção setecentista. Uma maneira de perpetuar talvez.
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