Paul gosta de contar a história por trás de "Picasso's last words" sempre que perguntado sobre o seu processo criativo: na Jamaica, onde trabalhava em Papillon, Dustin Hoffman diz a Paul, então de férias por lá, que não acreditava que ele pudesse escrever músicas sobre qualquer assunto. O ator pega uma revista ao acaso e lê matéria recente sobre a morte de Picasso, com suas famosas últimas palavras "Drink to me, drink to my health. You know I
can't drink anymore". Paul começa a música na hora, a partir dessas palavras, levando Hoffman a cutucar a mulher: "Olha, olha, ele tá fazendo!".
Terminasse aqui, já seria ótima a história. Mas Paul acabou fazendo, isso depois no estúdio etc, claro, uma música cubista, para justamente fazer jus ao seu tema. Parece óbvio, mas é justo uma preocupação formal como essa -- forma e fundo de mãos dadas, "Forma é conteúdo", já dissera Marx -- que distingue Paul de pelo menos 90% de outros compositores de rock / pop. Penúltima faixa de Band on the Run (1973), "Picasso's" incorpora trechos de "Jet" e "Mrs. Vandebilt", com mudanças inesperadas de tempo: a música cubista. Se atentarmos bem, a própria faixa-título já é um pouco assim.
Terminasse aqui, a história já seria muito boa e ótima, mas aí não custa lembrar que a gravação final foi em Lagos, na Nigéria, com Ginger Baker, o lendário baterista do lendário Cream, tocando uma lata cheia de cascalho.
Nas apresentações ao vivo, "Picasso's" abria o set acústico, maravilhosamente seguida por "Richard Cory", cover de Simon & Garfunkel. Funciona muito bem, mas a música é simplificada e a parada cubista inteiramente perdida.
Não se pode ter tudo, já dizia Lao-Tsé. Ou Hebe Camargo, lá sei.
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