Dezembro de 2012, completando 4 |
Há controvérsias, mas Dante tem um autismo secundário, decorrente da Síndrome de West que o acometeu quando tinha quatro meses. West é, basicamente, epilepsia infantil. Machado e Dostoiévski tinham suas epilepsias, mas desenvolvidas tardiamente (ninguém está a salvo), então deu tempo para Roskolnikov e Capitu. A infantil é, na palavra doce da primeira médica do Dante: catastrófica.
Há quem diga que não existe autismo secundário mas eu acho essa hipótese, não por acaso aventada por sua ótima neuropediatra, plausível. Autismo secundário ou simplesmente autismo, TEA talvez fique melhor mesmo, esse amplo espectro que agasalha crianças e indivíduos bastante funcionais (alguns são craques, como o Messi) até outros dentro do 'autismo clássico', vivendo como que num mundo só deles com pouquíssima interação. Acho que Dante está no meio. Nem craque nem encasulado. Não fala. Mas não quero sugerir que quem está aqui deve tentar chegar ali. Evolucionismo e autismo não casam.
As controvérsias são imensas, como tão bem explicou Andrew Solomon no seu já clássico Longe da Árvore (aqui). Bem resumidamente: aceitar o autismo como uma condição, como um traço identitário ou detestá-lo como uma doença e combatê-lo. Acho que o pai do Dante está bem no meio. Já aceitei, já detestei. Para todos os efeitos, uma resposta quando perguntam na pracinha (coisa que não me incomoda em nada, pelo contrário): Mas o que ele tem? E posso responder com alguma segurança.
Autismo também. Porque há transtorno de ansiedade (e como), há transtorno opositivo-desafiador (de quando acorda ao beijinho de boa-noite) e há, ainda, infelizmente, a maldita epilepsia, com insidiosas crises focais.
E há o menino que gosta de calça jeans, Laboratório do Professor Policarpo, ônibus trepidante, balanços, chocolate, água, suco de cupuaçu, bolas de gás, algumas músicas, iogurte, umas brincadeiras malucas que fazemos e varanda (para atirar o que tem às mãos).
Até onde apurei, tem o riso e o sorriso mais sublimes do mundo, em toda a história da civilização humana.
E olha que já se vão 200.000 anos.
6 comments:
Conhecer o Dante pelos seus olhos é de fato uma experiência, como diria Larrosa. Lendo seu post de hoje, fora as fotos que sempre acompanho, só consigo enxergar um menino cheio de idiossincrasias como todos os meninos e meninas que passei a vida a conhecer nos já mais de 30 anos de escola como professora. E é isso mesmo, Dante é o Dante mesmo imerso no seu autismo (nem sei se podemos falar assim) ele é único, com características que o aproximam de outros meninos autistas como ele, mas repleto de singularidades.
Gosto muito da maneira que vc fala. É isso, temos amor, curiosidade, respeito, mas temos zanga também quando o Outro não se "comporta" da maneira que imaginamos que deveria ser.
Viva o Dante! Que venham muitos aniversários, poucas crises epiléticas (nenhuma de preferência, porque elas são muito ruins), que venha alegria e, sobretudo, respeito.
Abraços
Dante, aquele que nos ensina a amar um amor novo a cada encontro, a descobrir que somos iguais nos diferentes reflexos dos espelhos e que a nossa vida é só um ensaio animado.
Tudo o que você escreve sobre Dante me toca de um modo que só me acontece quando sinto a quentura do amor . Obrigada por isto, Evandro!
Que lindo amor esse de vocês, com todos os seus ingredientes. Felicidades!
Você escreve do Dante, nós lemos do amor.
Fantástico, Evandro!
Sadly I barely understand portoguese but I know you understand english: may God bless you and the one you love.
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