Com um ano |
O indivíduo com autismo gosta de rotina e, não raro, de manias. Gostar de rotina até ajudou um pouco porque, quando ele bem menor, ou era isso para tentar organizar o caos ou era o desespero. Assim, horário pra tudo. Ele crescendo, passamos a flexibilizar um pouco, nada de quartel, mas, ainda assim, rotina.
Já as manias deixariam até Sidarta Gautama doido. O balanço deve ser empurrado deste modo, o banho dado assim, a coberta deve ser jogada ao chão assim que se deita, o xixi deve ser feito antes de se enxugar. Isso parece chato? Não acho. Aliás, temos uma série de rituais ao sair da pracinha: ele deve galgar as minhas costas, de onde descerá na frente do botequim em que há o relógio. Depois andaremos até o sinal vermelho. De lá prosseguiremos, com eventuais interrupções, até um prédio em cujo jardim há pedrinhas brancas. Ele pegará duas ou três. Ameaçará colocá-las na boca, só para me chatear. Andamos com elas até o portão de uma casa onde moram dois cachorrões. Na frente do portão ele atira as pedrinhas e saímos correndo de mãos dadas até a esquina, eu pisando exageradamente forte, e deixando para trás o latido grosso e irritado dos caninos. Na esquina sempre nos abraçamos.
É das coisas de que mais gosto no dia. Acredito que ele também.
2 comments:
Quero ler os nove, mas acho que este será o meu favorito.
Só pai ou mãe de um autista, ou uma, no meu caso, entende a importância disso para eles e como nos esforçamos para nada sair fora do script.
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