Saturday, November 15, 2014

Pell Meeeeeell! Pell Meeeeeell!



Em 1982 era muito difícil encontrar quem também gostasse de rock, e quando isso acontecia a banda preferida dessa pessoa seria Led Zeppelin, Deep Purple, Kiss, Beatles, ELP, mais raramente o Black Sabbath, como no meu caso.

A do Renato era o Pell Mell.

Eram épocas pré-Internet, disco importado só na Modern Sound, mais que distante, inacessível. De modo que a fita cassete que o Renato tinha do Marburg (1972, álbum de estreia da banda alemã Pell Mell), era cópia da cópia da cópia da cópia. Sem exagero. Da cópia (e gol da Alemanha!).

O sonho daquele garoto cabeludo rebelde do Colégio Marista São José era ter o Marburg, sonho sabido e consabido por toda a sua família, o que eu já achava notável, vê lá se minha mãe sabia qual a minha banda preferida.

Vim enfim a conhecer sua banda amada em viagem que fizemos com sua família para Pouso Alto. Estávamos no banco de trás do Passat do seu pai, tudo escuro lá fora, e eu ouvindo pela primeira vez aquilo. Na hora das maluqueiras vocais da "Friend", o Renato cantava junto! Cantava o incantável. 

Certa vez saiu uma revista especial da Som Três sobre rock e eu, indignado com algumas ausências, dizia a ele que iria escrever carta à redação para protestar. Depois de me ouvir, Renato replica: "Vou escrever também. Mas vou escreve apenas PELL MELL!". Quando íamos a shows no Circo Voador, qualquer que fosse, enquanto nós bobinhos gritávamos coisas como "Rock!", "Rock!", ele gritava desesperado "Pell Meeeeell!, Pell Meeeeeell", a ponto de um atônito Perfeito Fortuna certa vez parar tudo e perguntar "O quê? Mel Mel!? Mel Mel!?"

Então o Renato era assim. A vida (sauve qui peut) fez das suas e nos separou, mas depois nos juntamos novamente.

Contra todas as previsões sensatas, é hoje advogado. Quando soube que ele votaria no Aécio, reclamei saudades da sua rebeldia, ao que ele respondeu que nunca foi tão rebelde. Vindo dele, acredito. Foi ontem seu aniverário, fique este post de presente e homenagem. Ao som da lindeza extraordinária de "Alone", que fecha o disco, e dos gritos de Pell Mell Pell Mell que ainda ecoam aqui.



2 comments:

RRussano said...
This comment has been removed by the author.
RRussano said...

O incrível desse post é como ele revira meu folclore pessoal. Quando me lembro das viagens para Pouso Alto - enjoado até a alma por causa daquela serra - o Marburg é sempre a primeira trilha sonora que me vem à cabeça. Impressionante como, anos depois, vim a amar tanto esse disco (chupa, Pavlov!). Prova crassa do valor de uma música bem feita.