Friday, November 07, 2014

Stefan Baciu :: Poeta Romeno-Brasileiro



Amar se Aprende Amando foi dos poucos livros do Drummond comprados enquanto ele vivo. Comprei também os dois volumes de Reunião (único livro que levei para Chicago), mas o Amar é diferente pois era lançamento.

Na verdade, nem comprei. Naquela infinidade de amigos-ocultos do final de ano de 1985, pedi e ganhei.

É livro que sempre desprezei como menor.

De fato, tem um monte de poemas circunstanciais, mas um circunstancial do Carlos pode valer mais que.... Enfim. E mesmo esses circunstanciais hoje têm muito mais sentido para mim. Nava, cuja obra estou sempre relendo, Alphonsus de Guimarães Filho, que li e conheci, e por aí.

E aí me deparo com dois poemas para Stefan Baciu. Como estou em fase muito romena, ligo o alerta.

Stefan Baciu ::: escritor, poeta romeno-brasileiro. Escreveu, em português, biografia do Bandeira. E tem mesmo poema chamado "Café Palheta" (!), sem tradução para o português ainda. Será o café café ou a instituição tijucana hoje quase que inteiramente transformada em drogaria? O poema de Drummond faz também alusão ao café. Mira era mulher do Stefan.

Mais sobre Baciu, nascido em Brasov, cidade do romeno mais conhecido, o Vlad Tepes, em breve.




PRESENÇA DE MIRA

A Stefan Baciu

O errante colar de lembranças e metáforas
apaga-se no colo de Mira.
Maintenant je ne serais nulle part.
Quem sabe?
Mira, hei de encontrá-la sempre em alguns versos
que falam da criança construindo na areia
palácios e jardins da pátria proibida:
que contam do domingo, cesta de solidão,
e da mulher agitando um xale imaginário,
e do esquecimento, que é um papagaio de papel.

Não preciso escutar
o tambor do crorcunda anunciando as notícias,
para saber de Mira.
Neste grão de café encontro Mira pensando no Brasil.


A KISS, UN BAISER, UN BACIO

A kiss, un baiser, un bacio
para a terra que o acolheu.
Assim quis nosso Stefan Baciu
saudar o Rio antigo e seu.

Não muito antigo, mas trint'anos
tecem uma quase eternidade.
Entre danos e desenganos,
resta porém a claridade

(ou a penumbra) de lembrar
em surdina dias e gentes,
muito doce, bem devagar.
E as coisas tornam-se presentes.

Jornal e bonde e mortadela
comida à pressa, num minuto.
Contra a sorte cinz'amarela,
a Poesia: último reduto.

Praias e ondas do Havaí,
pulsando ao sol e ao vento vário,
não nos tiram Baciu daqui:
carioca ele é, mais que honorário.

CAFÉ PALHETA

Fostilor mei vecini
Titi si Alexandru Bilciurescu


Cesti de cafea intoarse si uscate
atat din eri ne-a mai rămas.
Cuvintele se intalnesc pe'mperechiate
când din taceri se-aude stins un glas

noi suntem propria-ne stafie
iesim din eri si nu intram în azi
amara-i dulcea gingirlie
când norii-si rup dantelele în brazi

din Honolulu'n piata Lahovary
e-un drum ascuns în alte cesti.
Zadarnic ne mai punem ochelarii
când tac profund cafelele turcesti

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