Wednesday, November 19, 2014

O Casamento Silencioso



Um quê de felliniano, um quê de realismo mágico e pastelão em Nunta Muta / O Casamento Silencioso (2008), mas as risadas perturbadoras no final nos mostram que o que temos é de fato filme romeno, da  Noul val românesc, em que certa dose de humor negro parece imprescindível.

Há algo também de maniqueísmo, mas que não chega a atrapalhar. Maniqueísmo, aqui, é da alegria  e conflitos puros e espontâneos da vida da aldeia em contraste com o a brutalidade do comunismo stalinista.  A vida da aldeia é a encontrada por Bakhtin em Rabelais (e não a descrita pela também romena Herta Müller em Depressões), não em confronto com o materialismo burguês, como o pensador russo queria. Esta oposição, pois, é a força motriz da história encaixada da narrativa. Na história que a emoldura, a da equipe de produção de programas paranormais, as coisas já não são assim previsíveis. Daí as risadas perturbadoras e ambíguas do final. Uma geração atual, pós-Ceausescu, alienada a ponto de incapaz de entender o drama daquelas viúvas traumatizadas, daquela aldeia devastada e suplantada por uma fábrica. Refugiam-se no rolo compressor do riso e da chacota.

Cenas absolutamente memoráveis ::: o clima da taberna, o beijo dos amantes com o lençol no meio, a chegada do circo (Fellini), a silenciosa celebração das bodas em si, com direito à sessão de pum.

PS :: Sem guglar, tenho quase a certeza de que Stálin morreu no inverno, o que mostra que o diretor desposou certas liberdades, o que acho ótimo.

PPS: Houve quem teve as bodas, e depois a vida, interrompidas por causa da morte do tirano. Houve quem morresse no mesmo dia em que o tirano :: Prokofiev, daí o velório sem única flor.



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