Dante tinha duas semanas de vida quando uma amiga da época estava em Niterói e então me convidou para ir ao Mercado de Peixe. Respondi que não dava. Para ouvir: "Olha, se você não pode sair, você está limado", colocando grande ênfase na última palavra. Fiquei meio chocado.
Com o diagnóstico de autismo, aí todo mundo some. As pessoas veem matéria na TV sobre autismo e ficam com os olhos marejados, mas ajudar minimamente irmão, sobrinho, primo, tio que tem autismo, ou que são cuidadores de autistas, ah isso é muito chato! Então disfarçam, dão um jeito de fazer inversões formidáveis para que você seja o errado, o mimizento, e deitam tranquilas as cabecinhas no travesseiro. Comem a consciência com Nutella, como Lampião comeu a dele com farinha.
Durante a pandemia, não houve um único von Sydow ou Domingues que se oferecesse, por exemplo, para dar um passeio de carro com o Dante. Ele que tanto gosta (e eu não dirijo). Daí pra baixo: agora já é abertamente excluído de aniversários e o (literalmente) tiozão que se compromete a recebê-lo em sua casa por um dia se lembra depois que precisa sair pra pescar. E sai pra pescar.
Este texto não está sendo escrito em momento de raiva, mas de serenidade. Hoje até prefiro assim. Minha régua hoje é como as pessoas agem em relação ao Dante. Se se interessam, se acheguem. Se não, podem ir embora. Na verdade já foram. E nem nos importamos mais.
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