Wednesday, February 21, 2018

Observações do Observatório ::: Crônicas Indianas X


Empolguei ao saber que Cortázar tinha livro sobre Jantar Mantar, os observatórios astronômicos mandados construir por Jai Singh II em cinco cidades do norte da Índia entre 1724 e 1735. Se não me equivoco, o de Jaipur é hoje o mais conhecido e nele está o maior relógio de sol de pedra do mundo, mais preciso que o mais preciso relógio suíço.

Empolguei ainda mais ao saber que o próprio Julio tirara aos fotos dos enormes instrumentos astronômicos, de modo que o livro já estava na fila de leitura antes mesmo de visitar o Jantar Mantar de Jaipur. Ao voltar de viagem, pois, foi só fazer a fila andar.

Não atendeu às expectativas. Ao tentar estabelecer relações entre suas observações do observatório de Jaipur e um artigo publicado no Le Monde em 1971 sobre os ciclos das enguias, Cortázar nos presenteia com uma prosa confusa e pretensiosa, de que a poesia praticamente se ausenta.

As fotos, segundo ele tiradas com um filme de má qualidade, mas 'consertadas' posteriormente, são até muito boas, embora a edição que tenho (segunda edição da Perspectiva, 1985) não ajude sua fruição.

Mas : 

também o céu é assim nas noites limpas quando as estrelas se amalgamam numa mesma pressão, conjuradas e hostis, negando-se à contagem, às nomenclaturas, opondo uma aveludada inalcançabilidade à lente que as circunda e abstrai, amontoando-se às dezenas, às centenas num mesmo campo visual, obrigando Jai Singh a banhar as pálpebras no bálsamo que seu médico extrai de ervas enraizadas nos mitos do céu, nos cruéis, alegres jogos das deidades fartas de imortalidade.








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