Num dos muitos bazares de Déli entramos na loja de instrumentos: pequena e entulhada. O vendedor amável foge à regra ao não querer empurrar-nos cítaras, tampuras e sarods goela abaixo. Paciente, aproveita para ensinar, teoria e prática.
Depois descobrimos que a santa cidade de Varanasi é ideal para a aquisição de uma cítara e, com efeito, esbarramos em lojas de instrumentos e escolas de música quase com a mesma frequência com que esbarramos em vacas e em cadáveres a caminho do Ganges.
Aí, Camila, que ficara quieta em Déli, enfia na cabeça que quer uma cítara, ideia tão despropositada e desregrada quanto maravilhosa. As visitas às lojas se amiúdam, aliás, agora já há mesmo mais lojas que vacas. Camila senta, conversa, indaga, ajeita os lindos instrumentos em seu colo e sonha, mas aí dá-se cousa curiosa: invertemos os papeis. Como escrevi, ela, geralmente o Sancho Pança do casal, sonha; eu, não raro o cavaleiro desmiolado, pondero. As cítaras, as tampuras, os sarods, os surbahares queimam-nos as mãos, as vozes melífluas dos vendedores / luthiers nos confundem: levem logo (ou também) uma elétrica, todos que compram uma cítara acústica depois voltam para a elétrica.
A visão da cítara linda a pegar poeira no alto do nosso guarda-roupa, porém, é um choque de realidade. Pior: imaginar o sufoco que passaríamos nos aeroportos, onde teríamos que enfrentar a diabólica burocracia indiana, é o soco de realidade que faltava. Que infelizmente faltava.
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