Um ótimo lugar para uma apresentação de flamenco na capital espanhola é o tradicional Tablao Villa Rosa. Mesmo que o cante, o toque, o baile, as palmas e o sapateado não fossem bons, mesmo que em alguma noite lhes falte o duende (na feliz expressão de Lorca), o que está longe de ser o caso nas apresentações a que assisti, restaria sempre o consolo dos maravilhosos painéis azulejares externos e internos. Dir-se-ia um museu espontâneo, presente das musas, inflamado e alegre.
No exterior, obras de 204 peças representando ciudades españolas, datadas e assinadas por Alfonso Romero, 1928.
Na parte interna, sempre muito escura, durante as apresentações ou não, painéis mais recentes representando cenas do flamenco e outras típicas da Andaluzia. Trabalhos de 1987, assinados por Julian Santa Cruz e Alfredo Ruiz de Luna, da Cerámicas Villa de Madrid, a qual, se não me engano, é a responsável pelos azulejos dos nomes das ruas madrileñas.
Que os azulejos externos sejam os originais de 1928 e os internos, reposições, é cousa que causa grande assombro. Que os externos tenham resistido às chuvas, às cusparadas borrachas, às mijadas de Cipión e Berganza, ao calor de 44 graus e ao horror das falanges franquistas, e os internos tenham que ter passado por restaurações e reposições sessenta anos depois é algo que me escapa.
A não ser, claro, que os azulejos internos do Tablao Villa Rosa da Plaza Santa Ana tenham se se deteriorado ao ponto do irreconhecível ante a paixão dorida do flamenco, quando, antes de leis antitabagistas, multidões mercúrias fumassem sem termo, bailassem paredes acima e garrafas de sangria voassem pelo salão para espatifaram-se contra as paredes, onde já não se distinguia o que era sangue, o que era vinho.
Bons tempos.
Málaga, cidade do avô que inventei |
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