Sunday, September 11, 2016

A Ópera do Mambembe Encantado e Medeia :: Óperas de Câmera

Ensaio do Mambembe Encantado

Quando contei à Camila que o ensaio da ópera a que assistiríamos -- A Ópera do Mambembe Encantado, de Eli-Eri Moura -- teria apenas oito músicos, e não apenas por ser ensaio, a ópera fora escrita para oito músicos mesmo, percebi nela surpresa. Afinal, quando se fala em ópera, vêm-nos à mente Wagner, Verdi,  Mozart, Puccini em produções grandiosas com, escusado lembrar, orquestras completas.

Bem, mas assim como existem sinfonias, existem quartetos de cordas e sonatas, e assim como existe Aída, poderá existir uma, por que não dizê-lo, ópera de câmera. A designação é precisamente esta. Quando fui a São Paulo anos atrás só para assistir a The Man who Mistook his Wife for a Hat, do Michael Nyman, sabia já tratar-se de uma desse tipo. No caso, Nyman utilizou apenas sete instrumentos, com forte ênfase nas cordas: dois violinos, dois violoncelos, uma viola, uma harpa, um piano, muitas vezes tocado por ele.

O 'gênero' (não é bem um gênero) começou com Britten na década de 1940, isso depois de ele já ter escrito Peter Grimes. A necessidade de um pequeno ensemble de músicos nasceu exatamente do desejo da companhia de poder excursionar com mais facilidade e, importante, tocar em espaços mais exíguos.

Em conversa que tive com o Mario Ferraro, cuja Medeia estreará em poucos dias, este justificou o uso de oito músicos da mesma forma que a companhia inglesa há 70 anos: ele quer ver a ópera tocada em cidades do Estado do Rio, como Duque de Caxias e Nova Iguaçu, e não apenas na capital. As restrições econômicas, naturalmente, têm o seu peso, de vez que é mais fácil arrumar trocados para um time de futebol que para uma ópera.

Mas falar em "justificar" a ópera de câmera soa esquisito, parece uma desculpa. Ora, quando assisti à Ópera do Mambembe Encantado, não senti falta de nada. O trompete, a flauta, o clarinete, a percussão, o piano, o violino, o violoncelo e o contrabaixo preenchiam tudo, mesmo porque, claro, não se tratava de tocar Tannhäuser com apenas oito instrumentos (o que poderia ser interessante), de vez que o trabalho já fora originalmente escrito para aqueles naipes mesmo. E, mais: dada esta aparente "limitação", o compositor procura extrair dos instrumentos uma riqueza de timbres de modo a evitar a monotonia. Ao fim, parecia haver bem mais que oito músicos na sala. Algo como a Fanfare for the Common Man, do Emerson, Lake & Palmer: aquilo não pode ser apenas três músicos.

PS : Na Medeia tem também saxofone e trombone. Quite something.






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