Lembram da revista Mad? Eu tinha coleção e como as lia e relia intensivamente, algumas piadas e ilustrações ficaram.
Lembro-me desta :: dizia: você se diz... / até que..... Algo assim, as reticências preenchidas de diversas maneiras. Uma era: Você se diz defensor da igualdade de direitos dos negros / Até que sua filha lhe apresenta o namorado negão. E na ilustração que acompanhava, um negro de aspecto desleixado de cabelo black power de mãos dadas com uma branca e o pai desta de olhos esbugalhados saltando da poltrona.
A piadinha tem seu quê de politicamente incorreto, já que o negro é apresentado de maneira estereotipada (e também o pai), mas se ela se faz lembrar é por seu mérito de atacar a hipocrisia. (Não, não direi "da classe média").
Isso é tão verdade, e o sinto em especial hoje menos em relação ao racismo que em relação à inclusão de indivíduos portadores de necessidades especiais. Como é bacana, como virou lei, abracemos a causa, com a convicção dos bêbados que escrevem poemas nas coxas.
Neste ano, em minha escola, tive um licenciando que, me parece, integra o complexo espectro autista. Asperger talvez, dadas suas claras dificuldades de socialização. Ele estava lá, sempre solícito, pontual, prestativo, participante como podia. Por causa de um disse-me-disse no seu estágio em português, a Direção responsável pela licenciantura foi implacável: SEM QUALQUER DIÁLOGO COM O ALUNO, bateu o martelo: não faz mais estágio aqui.
Mas o martelo não chegou a ser batido (não se diz em inglês, there's many a sip between cup and lip?), fui comunicado do caso poucos segundos antes e fiz o que pude para que ele ao menos terminasse o estágio em inglês, comigo, e fui além: que termine também em português.
Não escrevo isso para posar de herói, nem um pedaço. Escrevo, chocado, para mostrar que a mesma Direção que passa o dia nos mandando convites acerca de congressos colóquios falas mesas-redondas palestras apresentações grupos de estudos sitcoms entrevistas seminários o diabo que tiver a palavra inclusão é, sim, muito a favor da inclusão e está muito interessada em acolher ....... Mas, por favor, longe daqui, tá?
2 comments:
Infelizmente a maioria das escolas não está preparada pra lidar com as diferenças, aliás a sociedade também não. Ninguém quer fazer um esforço extra para entender e chegar até o outro.
Muito bom você deixar o que aconteceu registrado, Evandro. Felizmente, o desfecho deu certo e houve a possibilidade de gritar ao invés de engolir. Este é um dos lados positivos do serviço público: não precismos calar a boca e abaixar a cabeça. Enfim, tenho certeza de que o melhor para o aluno foi mudar de turma de português. Gostaria que você tivesse assistido sua regência sobre Guimarães Rosa. Tenho certeza de que teria ficado muito orgulhoso:-) Um beijo, Danielle.
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