Ela está lá, mal escorada por estacas derrapantes que se enfiam solo adentro. Se é difícil preservar igrejas e museus, o que dizer de casa pobre de preto pobre visionário que trabalhava nas salinas?
O que a salvou / salva do olvido eterno foi o compararem-na a Gaudí. A chancela de que tanto gostamos. Aí aquele monte de caco e caos de conchas ganha respeito e mesmo atrai visitantes. Em dias nublados.
Gabriel dos Santos e sua casa trazem-me à mente rol de coisas. Já antes de conhecer, imaginai agora. Mas me traz o Quintana de "Todas as artes são manifestações diversas da poesia -- inclusive, às vezes, a própria poesia".
Gabriel dos Santos era um poeta. E não quebrava nada. Construía com os cacos que lhe chegavam às mãos. Nada o fazia mais feliz. Criança. Sábio. Velho sábio getulista, o precursor da geladeira em São Pedro d'Aldeia, o precursor da ecologia, o nefelibata à margem da estrada. Vivendo à beira.
Engraçado só falarem de Gaudi pra lá e pra cá. A tal da chancela. Gaudí é fueda. Visionário, místico, mas um erudito. Sem querer criar dicotomias, se é para tecer comparações, se é para irmanar, fazer famílias, vêm-me à mente antes Arthur Bispo do Rosário e o Profeta Gentileza.
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