Sunday, April 14, 2019

Dona Tatá, Milho Verde-MG


O endereço de Dona Tatá: entre a Nossa Senhora do Rosário e a dos Prazeres, numa das bem poucas ruas que formam Milho Verde. Se você botar assim na caixa com goiabada cascão: Dona Tatá / Entre a Rosário e Prazeres / Milho Verde-MG, chega, o carteiro acha.

Mas talvez seja tolo presenteá-la com goiabada cascão, que ela encontra por lá, então talvez seja melhor azeite de dendê. Ou uns tamarindos daqui do Grajaú, catados depois de ventania.

Em seu pequeno repertório lexical, em que nomeia apenas as suas coisas importantes -- como 'rua', 'não' e 'chocolate' (tssss) --, Dante só chama Pampi de Tatá. Tatá, oxítona, que se ele diz táta já está dizendo batata.

Pois. Não foi um encontro bom ali em Milho Verde?

E Tatá podia ficar sendo Rosalina, Lina, mas sem perder o nome:


"Velhinha, os cabelos alvos. Mas, mesmo reparando, era uma velhice contravinda em gentil e singular -- com um calor de dentro, a voz que pegava, o aceso rideiro dos olhos, o apanho do corpo, a vontade medida de movimentos, -- que a gente a queria imaginar quando moça, seu vivido. Velhinha como-uma-flor. O rastro de alguma beleza que ainda se podia vislumbrar. Como de entre as folhas de um livro-de-reza um amor-perfeito cai, e precisa de se pôr outra vez no mesmo lugar, sim sem perfume, sem veludo, desbotado, uma passa de flor. Disse: -- "Meu Mocinho..." Mas dizia depressa, branda e enérgica, que nem que "meu-mocinho" um nome fosse, e que ele mesmo fosse dela, por bem que tantos cuidados não o prendiam nem vexavam. Ela olhava reto. O que falava -- a gente fazia. Mandava sem querer. Lélio se sentou no banquinho baixo. Ela disse que ele ia ficar para almoçar. E ali reinava um sossego." 

(...)

"E dona Rosalina, que nunca mudava, tinha como que naqueles olhos, diversos de todos, um exato de coisas que ele precisaria de um existir sem fim para aprender, mas que cabiam também no momento de um só olhar de bem-querer."


'A Estória de Lélio e Lina' 
Guimarães Rosa












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