Serão as "três baleias" o momento mais memorável e prontamente reconhecível do primeiro concerto para piano de Prokofiev (aqui e aqui). Certamente foram elas as causas do furor que a obra causou na estreia, com aquele crítico pedindo, por amor do tzar, uma camisa-de-força para aquele enfant terrible de 21 anos.
Também eu amo as três baleias e jamais esquecerei da primeira noite em que as ouvi ao vivo no Municipal pelas mãos da Linda Bustani. No intervalo meu amigo e eu extasiados, "E a gente na dúvida se vinha, hein?".
Está tudo muito certo. Mas o que me tem feito voltar a este concerto repetidas vezes é, hoje, precisamente o Andante, a "pequena ilha de lirismo" esquecida em meio aos sanguíneos movimentos atléticos e futuristas.
Há aqui acentuado sabor oriental, sem derrapar para um orientalismo fácil. Estamos em 1912, Rússia pré-revolução, pré-industrial, o que talvez explique. Vejo caravanas de buriatos atravessando estepes contra os ventos. Vejo Drogo com os olhos perdidos no deserto à espera dos tártaros. Vejo a tribo no deserto à espera de sua princesa hindu.
Na literatura para piano de Prokofiev, só encontro coisa igual no Larghetto do quinto concerto. Aquele que fui correndo escutar logo após assistir a Ana dos 6 aos 18, em 1995.
Costuma-se tocar este concerto quase sem pausa entre os movimentos. A ilha de lirismo de que falo vai aqui dos 7:19 aos 11:30. Martha nasceu para tocar isso.
No comments:
Post a Comment