Está para sair uma bíblia de 960 páginas com todas as letras de Bob Dylan, o que revela que o momento parece apropriado para esse tipo de publicação, que amiúde corre o risco de ser item apenas para fãs completistas. Letras de música publicadas em livro. Acaba de sair um também com todas as letras de Ian Curtis, vocalista do Joy Division que se enforcou aos 23 anos em 1980. So This is Permanence.
Independente de avaliarmos se as letras torturadas de Curtis se sustentam sobre o branco do papel e apenas, o livro tem já importância por apresentar material inédito, três cadernos manuscritos de Ian e páginas soltas.
Tive tudo do Joy Division em vinil e tenho tudo em CD. Tive ainda, por muitos anos, um pôster sobre a minha cama em letras garrafais: LOVE WILL TEAR US APART sobre a estátua de um anjo de pedra.
Ouvi ao ponto de gastar o Closer, praticamente só o lado B, tão logo voltei de Chicago em 1987. Era isso e a Nona de Mahler. Contra previsões sombrias, joydivisionianas, sobrevivi.
As três faixas finais -- "Twenty-four Hours", "The Eternal", "Decades" -- compõem um dos panoramas mais sombrios e desoladores da história do rock. Thom Yorke bebeu aqui.
Quando este disco saiu, Ian Curtis, que sofria de depressão e epilepsia, para a qual tomava medicação de todo incompatível com o álcool que ingeria, já estava morto. A voz de barítono distante e aparentemente gélida que canta quatro vezes "Where have they been?" sobre uma camada de mellotron é, portanto, uma voz que vem já do lado de lá e este lado de lá é frio, escuro, solitário.
Desespero igual só encontro em La Stagione per Morire (1972), do cantautori italiano Mauro Pelosi. Outro disco que amo.
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