Sunday, January 06, 2013

O Sexo na Alemanha Nazista



Meu pai órfão, restou-me apenas uma vó, gaúcha que orgulhava de sê-lo mas que quase não carregava no sotaque, exceto em Rio, que pronunciava /riu/ e frio, que pronunciava /friu/. Estava sempre com frio, daí a sua fala viver ainda em mim.

Minha vó era doce, a mais doce das velhas a mais doce das avós, mas só eu conhecia suas facetas inconfessáveis e impublicáveis. Certa vez encontrei-a no caramanchão do hotel em Mendes, onde se refugiara com livro. Naturalmente pergunto o que está a ler. O Sexo na Alemanha Nazista.

Problema nenhum em se ler isso, também eu tenho aqui a Encyclopedia of the Third Reich, cuja lombada já desagradou ao meu pai, mas convenhamos que não se espera encontrar a mais doce das avós lendo isso num caramanchão na serra.

Minha vó também gostava de beber sangue, naqueles horríveis copos de requeijão. Embora eu só fosse me tornar coloecionador de copos muitos anos depois, algo em mim já dizia que aquela combinação não podia prestar.

Quem sou eu para criticar os comportamentos infantis de Felipa, eu que os tenho em borbotões. Um deles é atribuir a certos momentos da vida uma trilha-sonora. Ainda que a atibuição amiúde seja involuntária, é algo bem Felipa.

A trilha-sonora dos dias finais de minha doce vampira resume-se a La Casa del Lago, do Saint Just, e ao Jérémiades, do Wim Mertens.



PS: Sem a foto que eu queria, sem o vídeo que eu queria. O blogspot prossegue boicotando este blog.

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