Almoçávamos Camila e eu no aeroporto de Joanesburgo à espera do nosso voo para Luanda e, em meio a colheradas de arroz frito tailandês, ouvíamos a conversa de três mulheres na mesa ao lado. Não entendíamos lhufas mas uma certeza tivemos : falavam em xhosa.
Isso porque emitiam aqui e ali o clique com a língua, tão xhosa, algo como o que fazemos quando imitamos para criança o som do cavalo.
Nunca tinha ouvido nada igual. Lembro de, há muitos anos, nas minhas primeiras aulas de russo no então Instituto Brasil-União Soviética na Rua das Marrecas, o professor Gustavo falando sobre sons inexistentes em português, por ocasião do /i/ gutural russo, também existente no tupi. Ele falou que o árabe tinha sons de camelo falando, coisas assim. Bem, aqui um desses sons. Não de camelo, mas inexistente, talvez de fêmea kudu no cio.
Foi o vendedor da livraria Clarke's quem primeiro me falou desse fonema tão maravilhoso. Eu comprara para o Dante o livrinho UMnumzana Mvundla udibana noMnumzana Mandela, em xhosa (ou isiXhosa para ser mais preciso) e ele então julgara conveniente que eu ao menos pronunciasse o nome da língua corretamente. Com toda razão. A aula foi ali mesmo, na livraria, e logo tínhamos todo mundo nos olhando, muitos também tentando a pronúncia acertada, uma tropa de cavalinhos trotando pela Clarke's. A julgar pela sua expressão, fiquei muito longe do razoável.
A propósito, nascido em Mvezo, Nelson Mandela era um xhosa, nesta língua chamado de Rolihlahla, o cara brigão, que cria caso. Assim foi, havia muito caso a ser criado, muita briga a ser brigada na África do Sul do apartheid.
Acho também fascinante que o clique não seja 'apenas' um som da língua xhosa, mas o som presente no nome da língua, o primeiro fonema do nome da língua. Há que passar por ele para adentrar o universo xhosa. Um batismo.
Dois vídeos. No primeiro a Miriam Makeba canta a 'canção clique'. Em 1979!!!! No segundo, pequeno tutorial para que todos aprendamos o clique neste final de semana.
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